Enquanto o Congresso tenta destravar a tão aguardada reforma do Imposto de Renda, um elemento essencial parece estar faltando: os dados detalhados da Receita Federal. Segundo o deputado Arthur Lira (PP-AL), a ausência de informações claras sobre o índice redutor que limita a 34% a carga tributária combinada de empresas e indivíduos está dificultando a análise do impacto fiscal das mudanças propostas.
Lira, que é relator do projeto que propõe isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil por mês e estabelece uma alíquota mínima de 10% sobre os chamados “super-ricos”, não poupou críticas ao fisco nesta terça-feira (27). O parlamentar apontou que ainda não recebeu a memória de cálculo que justifique o percentual limite da tributação, o que, segundo ele, compromete a transparência e o avanço da proposta.
“Há uma preocupação de que a tributação na jurídica mais a física tenha uma restrição muito abaixo do que o redutor está programando”, afirmou o deputado. A crítica reflete o temor de que o modelo esteja mal calibrado, penalizando mais do que o necessário ou, ao contrário, sendo leniente com contribuintes de alta renda.
A Receita Federal, por sua vez, respondeu no mesmo dia por meio do secretário Robinson Barreirinhas. Ele atualizou os números e afirmou que a nova alíquota mínima deve atingir aproximadamente 137 mil brasileiros com renda anual superior a R$ 600 mil. Um número ligeiramente inferior ao estimado anteriormente (141 mil), mas ainda considerado tímido por setores que defendem maior progressividade tributária.
Mesmo com essa explicação, Lira mostrou-se insatisfeito. “Tem alguns dados que nós não temos, as assessorias não têm, nenhum jornalista tem”, disparou. Segundo o deputado, os esclarecimentos técnicos são indispensáveis para que o Congresso avance com segurança na tramitação da proposta.
A reforma do IR, considerada uma das prioridades econômicas do governo, agora enfrenta resistência também nos bastidores políticos. Sem consenso sobre os impactos da mudança e sem dados completos sobre como a carga será redistribuída entre empresas e pessoas físicas, a votação pode ficar para o segundo semestre.
Enquanto isso, o impasse segue alimentando tensões em Brasília — e o futuro da reforma permanece em suspenso.