Uma técnica revolucionária de fertilização desenvolvida em laboratório resultou no nascimento de oito bebês saudáveis na Inglaterra, todos livres de doenças hereditárias. O procedimento inovador, que envolve material genético de três pessoas, foi documentado em um estudo publicado no prestigiado New England Journal of Medicine.
A inovação começa com a fertilização tradicional: o óvulo da mãe é unido ao espermatozoide do pai, formando um embrião com o DNA principal do casal. No entanto, quando a mãe possui mutações genéticas que afetam as mitocôndrias — estruturas responsáveis por gerar energia nas células — há risco de transmissão de doenças graves. Para evitar isso, os cientistas utilizam uma abordagem paralela, envolvendo uma doadora saudável.
Nesse processo, um segundo óvulo, vindo da doadora, também é fecundado com o espermatozoide do pai. Em seguida, os pesquisadores transferem o núcleo do embrião original — contendo o DNA da mãe e do pai — para o óvulo da doadora, que possui mitocôndrias saudáveis. Assim, o bebê herda o DNA nuclear dos pais biológicos, mas com mitocôndrias livres de mutações.
O novo embrião gerado por essa técnica contém o DNA nuclear da mãe e do pai, mas com mitocôndrias saudáveis provenientes de uma doadora. Isso significa que, embora três pessoas contribuam geneticamente, 99% do DNA do bebê pertence aos pais biológicos. Após a formação, o embrião é implantado no útero da mãe, e a gestação prossegue normalmente, como em qualquer gravidez convencional.
No total, 22 casais participaram do experimento, que resultou no nascimento de quatro meninos e quatro meninas, todos saudáveis. O mais velho tem atualmente dois anos, e o mais novo, apenas quatro meses. Uma nova gestação, fruto do mesmo tratamento, ainda está em andamento.
O Reino Unido se destacou não apenas por desenvolver a técnica, na Universidade de Newcastle, mas também por ser pioneiro ao aprovar uma legislação específica permitindo sua aplicação. A autorização foi concedida em 2015, após votação no Parlamento britânico. No entanto, em vários outros países, o procedimento continua proibido por questões legais e éticas.
A discussão sobre o método envolve dilemas profundos, já que as mudanças genéticas feitas são permanentes e serão herdadas pelas gerações futuras. Para os defensores, a técnica representa a chance de eliminar doenças mitocondriais fatais. Para os críticos, pode ser o início de uma era de manipulação genética direcionada. De qualquer forma, mães beneficiadas pelo procedimento expressam enorme gratidão à ciência por terem conseguido realizar o sonho de uma maternidade saudável.

