A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) se posicionou nesta quinta-feira (10/7) contra a nova tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros. Em nota oficial, a entidade classificou a medida como “injustificável” e afirmou que ela prejudica as economias dos dois países, ao romper com o histórico de cooperação comercial entre Brasil e EUA.
“Esta medida unilateral não se justifica pelo histórico das relações comerciais entre os dois países, que sempre se desenvolveram em clima de cooperação e de equilíbrio, em estrita conformidade com os melhores princípios do livre comércio internacional”, destacou a CNA.
Trump anunciou a nova taxação na quarta-feira (9/7), em carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Com a nova medida, o Brasil passa a ter a maior tarifa entre os 22 países notificados pelos Estados Unidos, com vigência a partir de 1º de agosto. A cobrança será aplicada separadamente de outras já existentes, como as tarifas sobre aço e alumínio, que agora também atingem o cobre.
Apesar da aproximação histórica entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump, a medida foi interpretada como uma retaliação generalizada. No campo, o impacto é visto com preocupação, principalmente diante da concorrência direta entre Brasil e EUA na exportação de commodities como soja e algodão.
CNA: diálogo, não confronto
Para a CNA, a solução para o impasse deve ser construída por meio do diálogo.
“Os produtores rurais brasileiros consideram que essas questões só podem ser resolvidas em benefício comum por meio do diálogo incessante e sem condições entre os governos e seus setores privados. A economia e o comércio não podem ser injustamente afetados por questões de natureza política”, reforça o comunicado.
A entidade lembrou ainda que, apenas na última década, o superávit dos EUA na balança comercial com o Brasil foi expressivo: US$ 91,6 bilhões no comércio de bens e US$ 256,9 bilhões se considerados também os serviços.
Apoio da indústria
O posicionamento da CNA foi reforçado por entidades industriais. O Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) manifestou “profunda preocupação” com a escalada das tensões comerciais entre os presidentes Trump e Lula.
“Essa disputa ultrapassa os limites da diplomacia e utiliza tarifas como instrumento político, afetando diretamente as forças produtivas, os trabalhadores e toda a sociedade”, afirmou o Ciesp em nota.
A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) também demonstrou inquietação, apontando “impactos relevantes” para as exportações brasileiras, sobretudo em equipamentos de grande porte.
“A medida não tem justificativa econômica e afetaria diretamente as exportações ligadas à infraestrutura de recarga de veículos elétricos, um setor em expansão nos EUA”, completou a entidade.
O comércio Brasil-EUA
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Em 2024, o Brasil exportou US$ 40,3 bilhões em produtos para os EUA e importou US$ 40,6 bilhões, resultando em leve déficit para os brasileiros.
Segundo especialistas, a medida de Trump insere o Brasil no centro de uma disputa geopolítica e comercial mais ampla, especialmente por sua atuação no Brics e por sua tentativa de manter relações comerciais equilibradas com diversos blocos.
Diante do novo cenário, o governo brasileiro estuda medidas de reciprocidade baseadas na Lei da Retaliação Econômica, aprovada pelo Congresso em resposta a iniciativas tarifárias anteriores de Trump.
A reação firme do setor agropecuário pode indicar um alinhamento tático com o governo federal, especialmente em temas que afetam diretamente a balança comercial e o ambiente de negócios do país.