A direita havia traçado planos para organizar sua articulação política, definindo que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) atuaria como regente oculto na dança das cadeiras das candidaturas de 2026. No entanto, uma tentativa de rompimento da tornozeleira eletrônica complicou o cenário, dificultando a superação da prisão do líder conservador em regime fechado. Com “o capitão” isolado, cresce o temor do grupo de se perder em disputas internas e sofrer revezes no próximo pleito.
Aliados já esperavam que Bolsonaro fosse preso em regime fechado, mas acreditavam ser possível demonstrar ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), bom comportamento e problemas de saúde que justificassem a prisão domiciliar. O plano inicial previa que o ex-presidente passasse apenas uma semana numa cela antes de retornar à sua residência em Brasília.
De Brasília, Bolsonaro continuaria inelegível e impedido de fazer campanha, mas manteria influência sobre a oposição e teria voz ativa em conflitos sobre candidaturas ao Planalto e chapas estaduais. Contudo, a prisão preventiva no sábado (22/11), antecipada em alguns dias devido a um suposto surto que resultou na tentativa de romper a tornozeleira eletrônica com ferro de solda, mudou completamente essa estratégia.
As chances de Bolsonaro deixar o regime fechado agora diminuíram significativamente. Caso não consiga convencer Moraes, o ex-presidente poderá permanecer sete anos nessa condição, com acesso ainda mais restrito a aliados, visitas mais controladas e de menor duração. O receio é que nem mesmo seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), consiga transmitir a palavra do pai sobre a próxima eleição, levando a direita a um processo de autofagia política.
Enquanto isso, a disputa pela sucessão como candidato da direita à Presidência se intensifica, acompanhada de embates sobre candidaturas conservadoras em diversos estados, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Os nomes da corrida
Pelo menos cinco nomes estão em avaliação para a candidatura da direita em 2026 com o apoio do Centrão. Entre eles estão os governadores Eduardo Leite (PSD-RS), Ratinho Júnior (PSD-PR), Ronaldo Caiado (União-GO), Romeu Zema (Novo-MG) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). A disputa era visível, mas até então sem grandes confrontos diretos. A expectativa era de que Bolsonaro escolhesse um desses nomes para representá-lo até março do ano que vem.
A prisão do ex-presidente, no entanto, alterou o cenário, na avaliação de seus aliados. Ela colocou em evidência o senador Flávio Bolsonaro, especialmente porque a vigília convocada por ele foi citada como um dos motivos da decisão de Moraes. Espera-se, assim, que o parlamentar seja consolidado como possível presidenciável. Até o momento, ele foi o filho que mais se preservou nos embates com o STF.
Lideranças do PL avaliam que, no mínimo, caberia a Flávio o papel de vice em uma chapa que busque captar o eleitorado bolsonarista. Ainda assim, essa composição não encontra apoio no Centrão, que exige também um representante como vice e evita herdar a rejeição associada ao sobrenome Bolsonaro entre os eleitores.
O receio entre os caciques da direita é que, sem a intervenção de Jair Bolsonaro, o filho 03, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), intensifique atritos com os candidatos à sucessão do pai.
Recentemente, Eduardo trocou farpas públicas com Tarcísio de Freitas, alegando que o governador de São Paulo estaria aproveitando o momento delicado do ex-presidente para se posicionar como presidenciável em 2026. No auge da disputa, Eduardo chegou a se apresentar como candidato na ausência de Bolsonaro.

