
A Polícia Federal convocou o tenente-coronel Mauro Cid para prestar novo depoimento nesta sexta-feira (13), após a prisão do ex-ministro do Turismo Gilson Machado, que integrava o governo de Jair Bolsonaro (PL). A convocação ocorre no contexto de suspeitas de tentativa de obstrução de Justiça, envolvendo suposta articulação para obtenção de um passaporte português para Cid.
Durante a operação, o nome de Mauro Cid também chegou a constar em um mandado de prisão expedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas a ordem foi revogada pelo ministro Alexandre de Moraes. Cid responde em liberdade por ter firmado acordo de delação premiada com a Justiça.
De acordo com o advogado Cézar Bittencourt, defensor de Cid, a revogação da ordem de prisão ocorreu porque o ministro considerou que o militar está colaborando com as investigações. Bittencourt também afirmou que Cid e sua família possuem cidadania portuguesa, mas não têm passaportes do país, e que isso foi esclarecido ao STF.
Suspeita de fuga
Segundo informou a Procuradoria-Geral da República (PGR), a PF identificou atuação de Gilson Machado junto ao Consulado de Portugal em Recife no mês passado, com a suposta intenção de viabilizar um passaporte europeu para Mauro Cid, o que poderia facilitar sua saída do Brasil. A solicitação, no entanto, não teria sido bem-sucedida.
Em parecer enviado ao STF, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, alertou que “há risco de Cid buscar outras alternativas junto a embaixadas ou consulados estrangeiros para o mesmo fim”, indicando possível tentativa de evasão do país. O documento destaca que a solicitação teria sido feita com base na cidadania portuguesa da mãe do militar, Agnes Barbosa Cid.
Gilson Machado negou as acusações. Em nota, afirmou que manteve contato com o consulado apenas para agendar a renovação do passaporte de seu pai, Carlos Eduardo Machado Guimarães, e que não houve qualquer intermediação em favor de Mauro Cid.
Colaboração com a Justiça
Na última segunda-feira (9), Mauro Cid foi ouvido pela Primeira Turma do STF na fase de interrogatórios dos réus do “núcleo 1” — grupo supostamente liderado por Bolsonaro e acusado de tramar um golpe de Estado para reverter o resultado das eleições de 2022.
Em seu depoimento, Cid revelou que o ex-presidente Jair Bolsonaro revisou e modificou um rascunho de decreto que previa medidas autoritárias, como a prisão de ministros do Supremo e parlamentares, e a convocação de novas eleições. Segundo o militar, Bolsonaro teria reduzido o escopo do documento, mas manteve o ministro Alexandre de Moraes como alvo de prisão.
“Ele [Bolsonaro] recebeu e leu. Enxugou o documento, retirando as demais autoridades das prisões. Somente o senhor [Moraes] ficaria como preso”, declarou Cid, destacando que o plano nunca foi assinado pelo ex-presidente.
O militar também reafirmou que sua delação foi feita de forma voluntária e que mantém a veracidade dos depoimentos anteriores prestados à PF.
A nova convocação de Mauro Cid pela Polícia Federal marca mais um capítulo das investigações que envolvem figuras centrais do governo Bolsonaro e apontam indícios de manobras para obstrução das investigações em curso no Supremo.