Pastores evangélicos aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmaram não ter restrições à possível indicação do ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF), embora vejam na escolha uma estratégia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para estreitar laços com o eleitorado religioso.
Membro da Igreja Batista e considerado figura de confiança de Lula, Messias é apontado como o principal cotado para a vaga deixada pela aposentadoria antecipada do ministro Luís Roberto Barroso. Caso seja confirmado, poderá ser o segundo ministro evangélico da Corte, ao lado de André Mendonça, integrante da Igreja Presbiteriana e indicado em 2021 por Bolsonaro. Após a indicação, o nome precisa ser sabatinado e aprovado pelo Senado Federal.
O pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, declarou que não há impedimentos pessoais em relação a Messias, embora reconheça divergências ideológicas.
“Minhas divergências com Jorge Messias são no campo ideológico. Eu não tenho nada pessoal contra ele, não vi até aqui nada moral contra a vida dele. A minha questão é ideológica só.”, afirmou.
Para Malafaia, a possível nomeação representa uma tentativa de Lula de se reaproximar dos evangélicos.
“Talvez Lula, que está tão longe dos evangélicos, agora queira também fazer uma média com alguém que é aliado dele. A minha questão é ideológica, não pessoal. Não há nada que desabone até aqui. Se aparecer algo, não é por ser evangélico que eu vou poupar. Mas precisa ser fato, não narrativa ou conversa fiada”, completou.
O pastor também mencionou que não se opôs à escolha do ministro Cristiano Zanin, mas criticou a indicação de Flávio Dino, por considerá-lo “militante ideológico”.
Já o pastor Robson Rodovalho, líder da Igreja Sara Nossa Terra e também ligado à família Bolsonaro, avaliou a possível escolha como natural, destacando o histórico de Messias no Partido dos Trabalhadores (PT) e elogiando sua conduta.
“Messias é um homem de caráter e honra”, disse.
Rodovalho também afirmou que a presença de mais ministros evangélicos no STF refletiria melhor a representatividade do segmento religioso no país.
“Os evangélicos são cerca de 30% da população. Nessa proporção deveríamos ter quatro Ministros do STF , e não apenas um. Acho que todo ato de correção de injustiça é sempre muito bem visto pela sociedade”, afirmou.
De acordo com aliados do Planalto, a indicação de Jorge Messias pode ser vista como uma estratégia política de aproximação com o público evangélico, segmento que historicamente tem maior afinidade com Bolsonaro e com pautas conservadoras.
No governo, Messias tem atuado para reduzir a distância entre Lula e lideranças religiosas, participando de eventos evangélicos como a Marcha para Jesus e mantendo diálogo direto com pastores. Apesar dos esforços, iniciativas voltadas a esse público ainda não produziram o impacto esperado.
Em declarações à CNN, o ministro afirmou que mantém separação entre fé e política.
“Fiz questão de, no palco, levar uma mensagem religiosa. A Marcha é para Jesus e não um evento político. É assim que nós pensamos. O homem não deve ocupar o lugar de Jesus”, afirmou Messias, que também entregou uma carta do presidente Lula aos organizadores do evento.