Rodrigo Bacellar, presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), foi detido nesta quarta-feira (3) pela Operação Unha e Carne, sob suspeita de ter recebido e transmitido dados sigilosos da Operação Zargun. A investigação mira as conexões do Comando Vermelho (CV) com representantes políticos, policiais e servidores públicos.
Conforme apuração da Polícia Federal, às 6h03 do dia da ação contra o deputado TH Joias, o parlamentar enviou a Bacellar uma foto do sistema de segurança de sua residência, mostrando a equipe da PF dentro do imóvel. Ele também compartilhou com o presidente da Alerj o número de sua advogada.
A PF sustenta que os diálogos demonstram “gravidade excepcional”, indicando que Bacellar tinha conhecimento da operação policial ainda em andamento antes de sua conclusão.
Supostas orientações para descarte de evidências
Após o alerta, TH Joias teria iniciado uma série de ações para eliminar ou esconder provas. De acordo com a PF, o deputado:
- apagou o conteúdo de seu celular antigo;
- adquiriu um novo aparelho telefônico;
- planejou uma mudança urgente utilizando um caminhão-baú;
- removeu objetos de dentro da residência logo após o aviso.
No novo celular, cuja troca também foi informada a Bacellar, TH Joias enviou um vídeo questionando se poderia deixar na casa um freezer e outros itens. O presidente da Alerj respondeu imediatamente: “Deixa isso, tá doido? Larga isso aí, seu doido.”
Para os investigadores, a interação demonstra orientação direta para ocultar elementos que poderiam ser alvo de apreensão.
Investigações sobre a origem do vazamento
A Polícia Federal trabalha agora para identificar quem teria repassado antecipadamente informações da Zargun para Bacellar. Os agentes apontam que as mensagens:
“Indicam envolvimento direto do presidente da Alerj no encobrimento do investigado e na tentativa de obstruir a atuação dos órgãos de persecução penal.”
Perfil do parlamentar
Bacellar exerce seu segundo mandato na Alerj. Foi secretário de Estado no governo do Rio, eleito deputado estadual em 2018 e reeleito em 2022 com 97.822 votos. Foi escolhido presidente da Alerj por unanimidade em 2025 e é o segundo presidente da Casa preso em exercício — o primeiro foi Jorge Picciani, na Operação Cadeia Velha.
Caso TH Joias
Preso em setembro, TH Joias é acusado de utilizar o mandato para beneficiar o Comando Vermelho, intermediando a aquisição de drogas, fuzis e equipamentos antidrones para o Complexo do Alemão, além de efetuar indicações políticas por solicitação de traficantes.
A Operação Zargun também revelou supostos esquemas de corrupção, lavagem de dinheiro e a infiltração de integrantes de milícias e criminosos no setor público.

