
A terceira edição da pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (2), revelou um cenário de desconfiança crescente entre os deputados federais em relação à capacidade do governo Lula de avançar com sua agenda no Congresso Nacional. Segundo o levantamento, 57% dos parlamentares acreditam que as chances de aprovação das pautas governistas são baixas, e 51% consideram negativa a relação entre o Executivo e o Legislativo.
O estudo foi realizado com 203 deputados entre os dias 7 de maio e 30 de junho de 2025, com margem de erro de 4,5 pontos percentuais. A pesquisa destaca um aumento da percepção negativa entre parlamentares de centro e independentes, dois grupos estratégicos para a articulação política do governo.
Entre os independentes, a avaliação negativa da relação com o Executivo saltou de 45% para 65%. No grupo de centro, essa taxa subiu de 38% para 49%. Já a confiança na aprovação da agenda governista caiu de 47% para 36% nesse segmento, refletindo um desgaste na articulação política.
Economia e segurança entre as principais preocupações
A política econômica do país também foi mal avaliada: 64% dos deputados acreditam que está indo na direção errada. Em relação à gestão do governo federal como um todo, 46% têm uma visão negativa, enquanto 27% a consideram positiva e 24% regular, números que mostram piora em comparação com a edição anterior da pesquisa, realizada em maio de 2024.
A violência foi apontada como o principal problema do país por 23% dos entrevistados, um salto em relação aos 7% registrados em 2023. A economia segue como a maior preocupação, com 31% das menções, embora tenha recuado em relação aos 38% do ano passado.
Interlocução limitada e propostas rejeitadas
Apesar das críticas, 84% dos deputados relataram ter sido recebidos por ministros, mas apenas 43% tiveram seus pleitos atendidos. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, foi apontada como a interlocutora mais efetiva do governo por 12% dos parlamentares, seguida pelo ministro da articulação política, Alexandre Padilha, com 9%.
As propostas mais bem avaliadas são:
Ampliação da faixa de isenção do IR: 88%
Exploração de petróleo na Amazônia: 83%
Aumento de penas por roubo: 76%
Entre as mais rejeitadas estão:
Exclusão do Judiciário do teto de gastos: 70%
Fim da jornada 6×1 para trabalhadores: 70%
Supremo e sucessão presidencial
A avaliação do Supremo Tribunal Federal (STF) também caiu: 48% têm visão negativa da Corte, ante 40% na pesquisa anterior. A aprovação caiu de 34% para 27%. 49% dos deputados afirmam que o STF invade sempre as competências do Congresso.
Em relação à sucessão presidencial de 2026, 68% acreditam que Lula será candidato à reeleição, mas 50% acham que a oposição vencerá o pleito. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aparece como o principal nome da oposição, citado por 49% dos entrevistados, um crescimento de dez pontos percentuais em relação a 2024.
Sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro, 51% defendem que ele deveria abrir mão da candidatura, enquanto 23% apoiam sua permanência na disputa.
Câmara dos Deputados e emendas
O atual presidente da Câmara, Hugo Motta, é bem avaliado por 68% dos deputados. Para metade dos parlamentares, a mesa diretora da Casa atua de forma mais alinhada ao bloco independente. Apenas 35% a veem em consonância com o governo.
A reforma ministerial, realizada no segundo semestre de 2024, é vista como ineficaz por 77% dos deputados, inclusive entre os governistas (65%), independentes (80%) e a oposição (90%).
Sobre emendas parlamentares, 57% acreditam que o volume de recursos vai se manter, mas o mesmo percentual avalia que o impasse na distribuição continuará. Apenas 14% acreditam que o Congresso abrirá mão de prerrogativas nos próximos anos.
A pesquisa confirma que o governo enfrenta desafios crescentes na interlocução com o Legislativo, num cenário que exige maior articulação e convergência para viabilizar pautas prioritárias em um ambiente político fragmentado e polarizado.