
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviou um recado direto ao Congresso Nacional nesta terça-feira (1º/7), ao defender a redução de privilégios e a adoção de uma política tributária mais justa no país. A fala ocorreu durante o lançamento do Plano Safra 2025/2026, no Palácio do Planalto, em um momento de intensificação do embate entre os poderes Executivo e Legislativo.
“Eu disse ao [Rodrigo] Pacheco quando tomei posse, disse ao [Arthur] Lira, e depois, mais recentemente, disse ao [Davi] Alcolumbre e ao Hugo Motta: este país será o que a gente quiser que ele seja. É só a gente determinar o tamanho que a gente quer que este país seja. E, para isso, é preciso diminuir os privilégios. Ninguém está querendo tirar nada de ninguém. Queremos apenas diminuir os privilégios de alguns para dar um pouco de direito para os outros”, afirmou Lula.
O pronunciamento foi feito horas depois de o governo oficializar a decisão de judicializar a derrubada do decreto que alterava a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), tema que elevou a tensão entre os Poderes nas últimas semanas. O Congresso derrubou o decreto na última quarta-feira (26/6), em uma votação relâmpago na Câmara e no Senado.
Críticas à resistência de setores privilegiadosDurante o evento, Lula também citou a proposta do governo de elevar a taxação sobre as casas de apostas online (bets) de 12% para 18%, classificando o lucro desse setor como “excessivo” frente ao esforço de outros setores da economia.
“6% para pessoas que estão ganhando milhões sem fazer nada. Pega a diferença do custo de vocês [empresários do agronegócio] que produzem, para o lucro de vocês, e compara com o custo de quem tem um bet. Quanto custa fazer essa bet? E o tamanho do lucro? E essas pessoas se rebelam”, criticou.
O presidente negou que as propostas do Executivo representem um aumento na carga tributária e defendeu que o objetivo do governo é distribuir melhor o peso dos impostos.
“Se vocês forem sinceros com a consciência de vocês, vão perceber que a carga tributária deste governo hoje, percentualmente, é menor do que era em 2011. O que a gente está fazendo não é tentar aumentar imposto, é tentar fazer uma tributação mais justa, mais correta”, afirmou.
Plano Safra e resposta políticaO evento também foi marcado pelo anúncio de R$ 516,2 bilhões em crédito para o setor agropecuário empresarial, o maior volume já liberado em um Plano Safra.
Apesar das divergências políticas, Lula reforçou o papel estratégico do agronegócio na economia nacional, enquanto aproveitou o espaço para posicionar o governo diante da pressão do Congresso.
A decisão do Executivo de acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) contra a derrubada do decreto do IOF é vista como um gesto de enfrentamento. A última vez em que um decreto presidencial foi sustado pelo Congresso havia sido em 1987, ainda no período de redemocratização. O movimento sinaliza um novo patamar na disputa por protagonismo institucional entre Planalto e Parlamento, com impacto direto nas negociações legislativas e nas estratégias fiscais do governo.