Investigação revela uso clandestino da Abin para monitorar autoridades e jornalistas; inquérito envolve Bolsonaro, Ramagem e Carlos Bolsonaro

A Polícia Federal concluiu que os parlamentares Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Câmara dos Deputados, e o senador Renan Calheiros (MDB-AL) foram vítimas de espionagem ilegal durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Os dois estão entre as autoridades monitoradas por uma estrutura clandestina de inteligência, conhecida como “Abin Paralela”, que teria operado à margem da legalidade para fins políticos e eleitorais.
As conclusões da investigação foram encaminhadas nesta terça-feira (17) ao Supremo Tribunal Federal (STF). O inquérito integra a Operação Última Milha, que apura o uso indevido dos sistemas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionagem e perseguição a opositores políticos.
O monitoramento ilegal teria sido conduzido sob o comando de Alexandre Ramagem, então diretor da Abin e hoje deputado federal pelo PL-RJ. Segundo a PF, o esquema violou garantias constitucionais de privacidade e sigilo, utilizando estruturas do Estado para alimentar uma rede de vigilância com fins políticos.
Lista inclui ministros do STF, senadores e jornalistas
Além de Lira e Calheiros, a PF identificou como alvos da espionagem os ministros do Supremo Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, os senadores Omar Aziz e Renan Calheiros, e ex-presidentes da Câmara como Rodrigo Maia. Jornalistas e servidores públicos também teriam sido monitorados.
O inquérito responsabiliza 35 pessoas pelos crimes de organização criminosa, interceptação clandestina de comunicações e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Entre os indiciados estão o ex-presidente Jair Bolsonaro, seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), e o próprio Ramagem. A PF aponta que eles atuaram diretamente ou de forma coordenada para estruturar e operar o esquema de vigilância ilegal.
Campanha de desinformaçãoDe acordo com o relatório, a chamada “Abin Paralela” também teria sido usada para alimentar campanhas de desinformação. Os investigados criaram perfis falsos na internet para divulgar informações distorcidas ou falsas sobre os alvos da espionagem, com o objetivo de influenciar o debate público e enfraquecer opositores políticos.
As ações teriam ocorrido especialmente durante períodos eleitorais e em momentos de crise institucional, intensificando a polarização e contribuindo para o enfraquecimento das instituições democráticas.
Desdobramentos no STFCom a entrega do relatório final, caberá ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF, avaliar se aceita as conclusões da PF e autoriza o prosseguimento das ações penais. A expectativa é de que o inquérito tenha repercussões políticas e jurídicas de grande impacto, dada a gravidade das acusações e o envolvimento direto de figuras centrais do governo Bolsonaro.
Até o momento, nem Jair Bolsonaro nem Carlos Bolsonaro se pronunciaram oficialmente sobre os indiciamentos. Alexandre Ramagem, por sua vez, nega qualquer ilegalidade e afirma que a investigação tem motivação política.Com informações da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal.