Solicitar o direito de sair de casa três vezes por semana, por no máximo seis horas, e ainda sob vigilância, soa como um pedido comum em processos de progressão de pena, feito por réus ou condenados com tornozeleira eletrônica. No entanto, este apelo foi encaminhado à Justiça por alguém que está no extremo oposto do sistema penal: um dos maiores combatentes do crime organizado no Brasil.
Odilon de Oliveira, juiz federal aposentado, ficou conhecido por sua atuação implacável contra o tráfico internacional de drogas. Responsável pela condenação de pelo menos 114 traficantes — incluindo Fernandinho Beira-Mar, um dos líderes do Comando Vermelho — acumulou penas que somam mais de 920 anos. Em sua trajetória, também determinou a apreensão de mais de 400 imóveis, 150 aviões e quase 900 veículos de luxo e caminhões.
Apesar do combate incansável ao crime, Odilon vive hoje como um prisioneiro dentro de sua própria casa, em Campo Grande (MS). A ironia de sua situação chama atenção: após décadas enfrentando facções perigosas, é ele quem agora precisa de proteção e liberdade vigiada para sair às ruas.
A virada em sua vida aconteceu em 2018, quando o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu retirar sua escolta policial, mantida por anos pela Polícia Federal. Desde então, Odilon tem convivido com o medo constante, sustentado por inúmeras ameaças que continuam vindo de organizações como o PCC e o Comando Vermelho.
A realidade do juiz que desmantelou impérios do crime revela uma contradição do sistema: quem passou a vida colocando bandidos atrás das grades agora clama por segurança para exercer o direito básico de ir e vir — ainda que com vigilância e por tempo limitado.