A Associação de Aposentados Mutualista para Benefícios Coletivos (Ambec), uma das principais investigadas na CPI dos descontos irregulares em aposentadorias, recebeu R$ 394,5 milhões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) entre 2023 e abril deste ano.
O alto volume de repasses foi revelado em um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que aponta indícios de atipicidade e levanta suspeitas sobre a movimentação financeira da entidade.
O relatório do Coaf indica que a Ambec, que tinha acordos com a Previdência para descontar valores diretamente dos benefícios (em troca de serviços supostamente autorizados), realizou:
Transações milionárias entre contas da própria titularidade. Por exemplo, R$ 112,9 milhões foram transferidos de uma conta da Ambec no Bradesco para outra no Itaú entre agosto de 2023 e abril de 2024.
Transferências para empresas ligadas a Maurício Camisotti, apontado como possível beneficiário final do esquema de desvios.
O Coaf expressou preocupação com a incompatibilidade entre o faturamento da Ambec e o volume de recursos transacionados, sugerindo que a “movimentação financeira apresenta-se incompatível com a capacidade financeira da cliente”, o que poderia indicar recursos provenientes de atividade não declarada ou ocultação fiscal.
Os valores exatos do repasse do INSS, segundo o Coaf, foram: R$ 242,4 milhões entre dezembro de 2023 e setembro de 2024; R$ 23,4 milhões (em um único depósito) entre setembro e novembro de 2024; e R$ 128,7 milhões entre novembro de 2024 e abril de 2025.
Ligações com Investigados e Defesas
A Ambec ganhou notoriedade nacional após ser alvo de uma operação da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) em abril, que investiga descontos indevidos realizados sem a anuência de aposentados e pensionistas.
Um relatório da PF aponta que a entidade teve um crescimento “estrondoso” no volume de descontos, passando de R$ 135 em 2021 para R$ 14,9 milhões em 2022 (um aumento de mais de 11.000.000%).
Empresas ligadas a investigados receberam milhões da Ambec, conforme o Coaf:
R$ 59,9 milhões para a Rede Mais Saúde, administrada pelo filho de Maurício Camisotti. A empresa alega que os valores foram por serviços prestados e cancelou o contrato após a operação da PF.
R$ 16,1 milhões para a Prospect Consultoria Empresarial, de Antonio Carlos Camilo Antunes (conhecido como “Careca do INSS” e apontado como operador do esquema). Antunes negou irregularidades em depoimento à CPI.
Tanto Antunes quanto Camisotti estão presos desde 12 de setembro, com a prisão validada pelo STF sob o argumento de que tentavam frustrar as investigações. A defesa de Camisotti nega irregularidades e afirma que ele não participou da captação de associados. A Ambec não respondeu ao contato da reportagem.