Ministros avaliam que atual presidente da Casa não consegue manter compromissos firmados com o Planalto e cede à pressão de deputados e empresários

Integrantes do governo federal têm demonstrado insatisfação com a atuação do deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) à frente da Câmara dos Deputados. De acordo com avaliação divulgada pela colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, ministros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) consideram que Motta não possui o mesmo controle sobre o plenário que seu antecessor, Arthur Lira (PP-AL), que presidiu a Casa de 2021 a 2024.
O episódio mais recente que acendeu o alerta no Palácio do Planalto envolveu uma reunião entre Motta, o ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT) e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). O encontro tratava de alternativas para compensar a retirada do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), e entre as propostas estava a tributação do Imposto de Renda sobre Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA) — até então isentas.
Na ocasião, Motta apoiou as medidas e chegou a classificá-las como “históricas”. No entanto, dias depois recuou, alegando que as propostas causariam reações negativas tanto entre os deputados da base quanto no setor produtivo. O movimento foi interpretado dentro do governo como sinal de fragilidade na liderança e dificuldade de articulação, ao ceder a pressões externas e internas após um compromisso firmado com a equipe econômica.
Comparações com Lira
Na visão de Fernando Haddad, Arthur Lira teve um papel mais firme e estratégico nas negociações políticas. Em declaração feita na última sexta-feira (13), o ministro destacou que o ex-presidente da Câmara, mesmo antes da posse do atual governo, assumiu o compromisso de dissociar disputas políticas das pautas econômicas, o que teria contribuído para o avanço de medidas consideradas prioritárias pela Fazenda.
Já entre os parlamentares, a comparação entre os dois líderes também é recorrente. Deputados ouvidos pela reportagem afirmam que Motta tem encontrado maior resistência interna, inclusive entre aliados do governo, especialmente no que diz respeito às negociações de emendas parlamentares. Diferentemente de Lira, que oferecia mais autonomia na liberação de recursos, Motta enfrenta críticas por não conseguir garantir o mesmo grau de influência ou confiança entre seus pares.
Transição de comandoHugo Motta assumiu o comando da Câmara dos Deputados após o fim do segundo mandato de Arthur Lira, que se encerrou em fevereiro de 2025. Deputado federal desde 2011, Motta é considerado um nome promissor dentro do Republicanos, mas ainda tenta consolidar sua posição como articulador político no Congresso.
Nos bastidores, ministros e lideranças políticas avaliam que a falta de firmeza nas negociações pode comprometer a agenda legislativa do governo, especialmente em temas sensíveis como a reforma tributária e o novo arcabouço fiscal.
Enquanto isso, o Planalto busca caminhos alternativos para garantir maioria no plenário, observando com cautela os próximos passos de Hugo Motta e o reflexo de sua condução no andamento das pautas econômicas e políticas da atual gestão.