Dois anos após ser retirada do Programa Nacional de Desestatização (PND), a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos registrou um prejuízo bilionário em 2024 — quatro vezes maior que o de 2023, que foi de R$ 597 milhões.
Diante do maior rombo desde 2016, o governo Lula (PT) busca proteger a estatal, que enfrenta dificuldades para controlar os gastos e vem implementando medidas de contenção de custos que têm gerado insatisfação entre os trabalhadores.
Nesta segunda-feira (12/5), a empresa anunciou um pacote com sete ações para enfrentar a crise financeira. Entre as medidas, estão a suspensão de férias e a obrigatoriedade do trabalho presencial, que passam a valer a partir do próximo mês. Além disso, no fim de 2023, os Correios recorreram a empréstimos junto a duas instituições financeiras para reforçar o caixa.
Veja as medidas apresentadas na segunda:
- Prorrogação das inscrições para o Programa de Desligamento Voluntário (PDV): até 18 de maio de 2025, mantendo os atuais requisitos de elegibilidade;
- Incentivo à redução da jornada de trabalho: alteração da carga horária para 6 horas diárias e 34 horas semanais, com ajuste proporcional de remuneração para empregados lotados em unidades administrativas;
- Incentivo à transferência, voluntária e temporária, de agente de correios – atividade carteiro e atendente comercial para atuar em centros de tratamento: o pagamento do adicional de atividade será o mais vantajoso para empregados;
- Suspensão temporária de fruição de férias: a partir de 1º de junho de 2025, referente ao período aquisitivo deste ano. As férias voltarão a ser usufruídas a partir de janeiro de 2026;
- Revisão da estrutura do Correios Sede: redução de pelo menos 20% do orçamento de funções;
- Convocação para o retorno ao regime de trabalho presencial: todos os empregados devem retornar a partir de 23 de junho de 2025, com exceção daqueles protegidos por decisão judicial;
- Lançamento de novos formatos de planos de saúde: a escolha da rede credenciada será dialogada com as representações sindicais. A economia estimada será de 30%.
A estimativa dos Correios é que o plano de corte de despesas gere uma economia de até R$ 1,5 bilhão em 2025. Paralelamente, a estatal firmou uma parceria com o New Development Bank (NDB) para captar R$ 3,8 bilhões em investimentos — processo que ainda está em andamento.
Além dos Correios, o governo Lula também retirou do Programa Nacional de Desestatização outras estatais, como a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a Dataprev (Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência) e o Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados).
Prejuízo nos Correios
- A empresa estatal encerrou 2024 com prejuízo de R$ 2,6 bilhões.
- O prejuízo é quatro vezes maior do que o registrado no ano anterior, que foi de R$ 597 milhões.
- É a primeira vez desde 2016 que os Correios apresentam prejuízo bilionário em suas operações. Na época, a companhia ficou no vermelho em R$ 1,5 bilhão (o equivalente a R$ 2,3 bilhões, em valores atualizados).
Em janeiro de 2025, após a divulgação do déficit de R$ 3,2 bilhões registrado pelos Correios em 2024, o presidente Lula recebeu no Palácio do Planalto o presidente da estatal, Fabiano Silva dos Santos, para discutir a situação da empresa. A reunião também contou com a presença da ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, e da secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior.
“Quando uma empresa é sucateada como ela foi para ser vendida, a gente tem um trabalho grande recuperar essa empresa”, disse Santos após a reunião. “A empresa está em um processo franco de recuperação”, completou.
A ministra Esther Dweck destacou que a estatal está mudando para se tornar uma empresa de logística nacional. “Obviamente, isso gera necessidade de investimento do parque tecnológico deles”, argumentou.
Os Correios foram a estatal federal com o maior déficit em 2024, totalizando R$ 3,2 bilhões. Ou seja, além do déficit orçamentário, a empresa também registrou prejuízo no ano — situação distinta de outras estatais, como a Casa da Moeda do Brasil e o Serpro, que apresentaram déficit, mas ainda assim fecharam o ano com lucro líquido.
Correios recorrem a empréstimos
Em dezembro de 2024, os Correios contrataram operações de crédito para capital de giro com o Banco ABC e o Banco Daycoval, por meio de Cédulas de Crédito Bancário (CCB). Os contratos preveem carência de seis meses para o início do pagamento do valor principal e dos juros.
Com o Banco ABC, a operação foi de R$ 250 mil, com remuneração de CDI + 1,80% ao ano. Já com o Banco Daycoval, o valor foi de R$ 300 mil, com taxa de CDI + 3,296% ao ano. Os dois empréstimos serão quitados em seis parcelas mensais a partir de julho de 2025, com vencimento previsto para novembro e dezembro do mesmo ano.
Em nota divulgada junto ao resultado fiscal de 2024, a empresa afirmou enfrentar um “legado de sucateamento com investimentos e modernização” e destacou que, apesar do prejuízo, foram aplicados R$ 830 milhões em melhorias no último ano — incluindo renovação da frota, modernização da infraestrutura e ampliação da capacidade tecnológica.