O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou nesta terça-feira (30) que os estabelecimentos identificados pela venda de bebidas alcoólicas adulteradas com metanol em São Paulo serão alvo de interdição cautelar. A medida foi anunciada durante coletiva no Palácio dos Bandeirantes.
Segundo o governador, o fechamento é necessário para impedir a continuidade da comercialização irregular e aprofundar as investigações.
“A interdição é também uma forma de checar toda a documentação e identificar a origem da bebida. Se não houver comprovação da procedência, vamos chegar até o distribuidor e ampliar a investigação”, disse Tarcísio.
Ele ressaltou que os locais poderão reabrir apenas quando houver garantia de segurança para os consumidores. Além disso, alertou que comerciantes também podem ser responsabilizados criminalmente caso comprem produtos de origem suspeita.
“Se o comerciante adquire bebida de um fornecedor que frauda, ele está estimulando o crime. Todo mundo tem responsabilidade nesse processo”, afirmou.
Operação apreende 17,7 mil produtos adulterados
Nesta terça, a Polícia Civil apreendeu mais de 17,7 mil produtos durante operação em Americana, no interior do estado, para combater a falsificação de bebidas. Foram cumpridos mandados em três endereços, incluindo uma chácara usada para produzir uísque, gim e vodca.
No local, foram encontradas garrafas vazias e equipamentos para manipulação de líquidos, mas não houve apreensão de metanol, segundo o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Tarcísio negou, ainda, qualquer indício de participação da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) nos casos de adulteração.
Casos e mortes confirmadas
De acordo com balanço atualizado do governo paulista, já são 22 registros de intoxicação por metanol, sendo 17 suspeitos e cinco confirmados. Entre as mortes, quatro estão em investigação e uma já foi confirmada.
A vítima confirmada é um homem de 45 anos, morador de São Bernardo do Campo, que morreu no último domingo (28). Outros dois homens — de 48 e 54 anos — morreram em Itu e na capital paulista neste mês, após ingerirem bebidas adulteradas.
Ministério alerta para risco de surto epidêmico
A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad), ligada ao Ministério da Justiça, emitiu alerta sobre a gravidade do cenário. Segundo o órgão, diferentemente de casos anteriores, as intoxicações agora ocorrem em “cenas sociais de consumo”, o que eleva o risco de surto epidêmico.
“A ingestão de metanol provoca intoxicações graves e potencialmente fatais. O cenário de adulteração exige resposta rápida das autoridades sanitárias e atenção redobrada da população, sobretudo em períodos de maior consumo, como os fins de semana”, destacou a Senad em nota.
Recomendações às empresas e consumidores
A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) divulgou nota técnica com orientações urgentes a bares, restaurantes, hotéis, mercados e aplicativos de delivery. Entre as recomendações estão:
- comprar apenas de fornecedores formais, com CNPJ ativo e nota fiscal;
- checar rótulos, lacres e numeração dos lotes;
- desconfiar de preços muito abaixo do mercado ou embalagens com falhas;
- não realizar “testes caseiros” para identificar adulteração.
A população também deve ficar atenta a sintomas como visão turva, dor de cabeça intensa, náusea, tontura e confusão mental, que podem indicar intoxicação por metanol.
Investigações em andamento
Dois inquéritos foram abertos para apurar os casos: o 2º Distrito Policial de São Bernardo do Campo, que investiga a morte registrada no município, e o 48º DP da Cidade Dutra, na zona sul da capital, que apura outro caso suspeito sem óbito. Exames periciais e depoimentos de testemunhas estão sendo colhidos.