Em meio ao agravamento da crise humanitária na Faixa de Gaza, o assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim, afirmou que o governo brasileiro não deve aceitar a indicação de um novo embaixador israelense para o Brasil. A declaração foi dada em entrevista publicada nesta sexta-feira (4) pelo jornal Folha de S.Paulo.
Segundo Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores, o Brasil não concedeu e nem concederá o agrément, termo diplomático para a aceitação oficial de um embaixador, ao novo indicado por Tel Aviv, diante do que classificou como um “genocídio contra a população palestina” praticado por Israel.
“O novo [diplomata indicado] não recebeu o agrément, nem vai receber. Nem tem por que receber. O Chile já rompeu relações diplomáticas com Israel. A Irlanda e a Eslovênia tiveram muitas restrições, muitos países europeus também, porque Israel está praticando um genocídio”, afirmou Amorim à Folha.
Apoio à ação na Corte Internacional
O assessor também defendeu que o Brasil apoie a ação movida pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça (CIJ) contra o governo de Benjamin Netanyahu. O processo acusa Israel de violar a Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, no contexto da ofensiva militar em Gaza.Amorim comparou os ataques do Hamas ao massacre promovido por Israel:
“É muito ruim matar 2.000 pessoas, é péssimo, é horrível e condenável. Mas matar 60 mil, 70 mil, além de mulheres e crianças na fila humanitária, é impensável”, disse.
Apesar das críticas contundentes, Amorim reforçou que o Brasil condena os ataques terroristas realizados pelo Hamas contra civis israelenses em outubro de 2023, que resultaram na morte de mais de 1.200 pessoas.
Relação com o Estado de IsraelCelso Amorim enfatizou a importância de separar o povo judeu das ações do governo israelense, destacando que Israel tem o direito de existir e de se defender contra o terrorismo, mas que as ações recentes ultrapassam os limites da legalidade internacional.
“Israel tem direito de existir e de se defender contra terrorismo, mas o que está em andamento atualmente é genocídio”, resumiu.
No ano passado, após declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparando as ações de Israel às do regime nazista, o governo israelense declarou o chefe de Estado brasileiro persona non grata e convocou o embaixador brasileiro em Tel Aviv, gerando forte tensão diplomática.
Críticas a sanções contra Alexandre de MoraesNa entrevista, Amorim também criticou as discussões em curso no Congresso dos Estados Unidos sobre a possibilidade de impor sanções ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, incluindo a proibição de entrada em território norte-americano.
As medidas seriam uma resposta às ações do magistrado contra redes sociais que descumpriram decisões judiciais no Brasil.
“Isso é totalmente absurdo. Não acredito que os EUA chegarão a esse ponto”, disse Amorim.
BRICS e G20
Por fim, Amorim destacou a importância crescente dos BRICS no cenário internacional e seu protagonismo dentro do G20. Ele também comentou as ameaças do governo norte-americano ao bloco:
“Se a gente ficar com medo de ameaça, a gente não faz nada”, concluiu o assessor.