Fonte: Jamille Ribeiro – BBC News
A faxineira Gabriela Cristina Elias de Jesus, moradora do Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, foi presa durante a megaoperação policial contra o Comando Vermelho, realizada em 28 de outubro. A mulher, mãe de um menino de seis anos, é acusada de associação ao tráfico e resistência após fazer uma transmissão ao vivo mostrando policiais entrando em sua casa durante o confronto.
Segundo relato da mãe de Gabriela, Selma Elias de Jesus, de 62 anos, a filha gravava os vídeos para registrar a entrada dos agentes na residência, onde estavam apenas mulheres e crianças.
“Bateram nela, puxaram o cabelo dela. E não tinha ninguém lá dentro”, contou Selma à BBC News Brasil. “Ela só dizia que o trabalho deles era lá fora, não dentro da casa dela.”
De acordo com Selma, os policiais usaram spray de pimenta dentro do imóvel, o que teria deixado uma criança de dois anos com febre. Os vídeos gravados pelas moradoras mostram policiais na porta da casa e crianças no local.
Em uma das gravações, uma mulher afirma: “Nós somos moradores, não somos traficantes.” Em outro trecho, é possível ouvir gritos e ver um policial dando voz de prisão a uma mulher. Gabriela foi a única levada pelos agentes.
A Defensoria Pública do Rio informou que ela foi liberada dias depois, mas o caso continua em análise pelo Ministério Público.
Versão do Ministério Público
Em nota, o MP-RJ afirmou que Gabriela foi detida em flagrante por associação ao tráfico e resistência, alegando que ela teria transmitido a localização dos policiais, o que teria provocado “novos disparos” de criminosos contra os agentes.
Segundo o órgão, a faxineira ainda teria tentado pegar o fuzil de um policial, sendo contida com “uso moderado da força”.
O MP também mencionou que Gabriela teria visitado, na cadeia, um homem foragido denunciado por integrar o Comando Vermelho — informação que, segundo o órgão, reforçaria o indício de ligação com o tráfico. O caso foi encaminhado à Promotoria de Investigação Penal para apurar se houve excessos na ação policial.
Questionamentos e críticas
Para o professor de Direito Penal da FGV, Thiago Bottino, a justificativa usada para a entrada dos policiais na casa é questionável.
“Não há autorização para entrar em domicílio sem mandado judicial, salvo em situações muito específicas”, explicou. “Dizer que a live colocava os policiais em risco é frágil, porque quem invadiu e expôs os moradores ao perigo foram eles.”
O defensor público Marcos Paulo Dutra Santos, coordenador do Núcleo de Defesa Criminal da Defensoria do Estado, classificou como “exagerada e especulativa” a interpretação de que Gabriela tenha agido em associação com o tráfico.
Contexto da operação
A operação, considerada a mais letal da história do Brasil, deixou 121 mortos, entre eles quatro policiais. Uma semana após a ação, as autoridades do Rio ainda não divulgaram a lista dos 113 presos e não esclareceram os motivos da demora.
Moradores de diversas comunidades realizaram protestos contra a violência policial e a invasão de casas sem mandado judicial durante a ação.













