Uma declaração atribuída ao coordenador da Defesa Civil de Maceió, Abelardo Nobre, durante inspeção judicial no bairro Bom Parto, na terça-feira (22), gerou questionamentos entre especialistas e participantes da vistoria. Segundo relatos, Nobre teria atribuído as rachaduras e o afundamento dos imóveis na região à presença de “argila expansiva no subsolo”, uma justificativa inédita até então nas discussões técnicas sobre os impactos da mineração da Braskem em Maceió.
A expressão surpreendeu os presentes por nunca ter sido citada nos estudos que vêm sendo realizados há anos sobre os danos estruturais nos bairros afetados pela exploração de sal-gema, como Pinheiro, Mutange e Bebedouro.
Um dos principais especialistas em solos do país, o engenheiro Abel Galindo, rebateu a afirmação com veemência. “Posso garantir que não existe no subsolo do Bom Parto, nem em nenhum outro bairro de Maceió, a tal argila expansiva que o senhor Abelardo atribuiu como causadora das rachaduras nos imóveis”, declarou. Galindo baseia sua afirmação em quase 50 anos de atuação na cidade e em mais de 20 mil furos de sondagem para análise de solo realizados ao longo da carreira.
De acordo com o engenheiro, os danos nos imóveis do Bom Parto têm origem clara: a atividade mineradora da Braskem, especialmente a mina 34, localizada nas proximidades. “Empresas internacionais contratadas pela própria Braskem em 2020 já haviam indicado que a mina 34 pode subir até a superfície, o que provocaria deformações no solo e rachaduras nos imóveis, como já ocorreu com a mina 18”, explicou.
A vistoria foi solicitada para embasar a decisão judicial de pedidos apresentados pela Defensoria Pública da União (DPU), entre eles a concessão de realocação facultativa aos moradores da região. Apesar das evidências de danos estruturais, a Defesa Civil de Maceió reafirma que não há risco iminente de colapso ou afundamento súbito do solo na área 01 do Bom Parto — argumento utilizado para afastar, até o momento, a necessidade de remoção das famílias.
Nota oficial da Defesa Civil
Em nota enviada ao jornal Extra, a Defesa Civil reiterou que a região é monitorada continuamente, com uso de equipamentos de alta tecnologia e visitas técnicas regulares. O órgão destacou que o Bom Parto é classificado como área de risco desde 2007, devido à sua localização às margens da Lagoa Mundaú, o que o tornaria suscetível a inundações e patologias estruturais.
Sobre a vistoria realizada no dia 22, o órgão esclareceu que o objetivo da ação não era ampliar o mapa de áreas prioritárias para evacuação, mas fornecer subsídios técnicos ao juiz federal responsável pelo caso. A nota, no entanto, não faz menção à suposta explicação da “argila expansiva”.

