O rei Charles III realizou nesta quinta-feira (23) uma visita histórica ao Vaticano para um encontro com o papa Leão XIV, ocasião em que os dois rezaram juntos na Capela Sistina em uma cerimônia ecumênica sem precedentes desde o cisma anglicano, ocorrido há cinco séculos.
Charles III, que exerce o papel de governador supremo da Igreja Anglicana da Inglaterra, chegou ao Vaticano pouco antes das 6h, no horário de Brasília, acompanhado de sua esposa Camilla. A reza conjunta com o papa teve início pouco depois das 7h, também pelo horário de Brasília.
Segundo o Vaticano, “um momento histórico nas relações entre anglicanos e católicos”, a cerimônia teve como temas centrais a unidade cristã e o cuidado com o meio ambiente. A realeza britânica afirmou que o ato “marcará um momento importante nas relações entre a Igreja Católica e a Anglicana”.
A religião anglicana nasceu em 1534, quando o rei Henrique VIII promoveu a cisão com a Igreja Católica por conta da recusa do papa em anular seu casamento com Catarina de Aragão. Desde então, as duas igrejas permanecem separadas. Em 1961, a rainha Elizabeth II, mãe de Charles III, foi a primeira monarca britânica a visitar o Vaticano desde o cisma.
Leão XIV, eleito em maio após a morte do papa Francisco em abril, recebeu Charles III em seu primeiro encontro oficial com o novo chefe da Igreja Católica.
Apesar das décadas de relações amistosas entre papas e a Comunhão Anglicana, a divisão persiste em temas como a ordenação de mulheres sacerdotes, proibida pela Igreja Católica.
Durante a visita a Roma, Charles também será formalmente reconhecido com o título de “Confrade Real” na Basílica de São Paulo Extramuros, local com fortes laços históricos com a Igreja da Inglaterra. O rei retribuiu a honra concedendo a Leão XIV o título de “Confrade Papal da Capela de São Jorge”, no Castelo de Windsor.
A visita ocorre em um momento delicado para Charles III, enquanto seu irmão Andrew enfrenta novas revelações no caso do criminoso sexual Jeffrey Epstein.
O ponto alto da visita foi a cerimônia ecumênica na Capela Sistina, na qual Charles e o papa rezaram juntos em um ofício cujo tema central foi a proteção da natureza, causa com a qual o rei está profundamente comprometido.
A cerimônia religiosa combinou tradições católicas e anglicanas, com a participação dos corais das Capelas Sistina e de São Jorge de Windsor.
“É um evento histórico”, afirmou William Gibson, professor de História Eclesiástica na Universidade Oxford Brookes. Ele lembrou que, por lei, o soberano britânico deve ser protestante. “De 1536 a 1914, não houve relações diplomáticas oficiais entre o Reino Unido e a Santa Sé”, destacou. O Reino Unido só inaugurou uma embaixada no Vaticano em 1982.
Gibson também recordou que, em 2013, a lei foi flexibilizada para permitir que membros da família real que se casem com católicos mantenham seu lugar na linha de sucessão, o que antes não era permitido.
Além da cerimônia na Capela Sistina, Charles III e Camilla participarão de um serviço religioso ecumênico na Basílica de São Paulo Extramuros, onde o rei será nomeado “confrade real”. Para essa cerimônia, foi criado um assento especial para Charles, que permanecerá na basílica e poderá ser usado futuramente por seus sucessores.