Uma declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), feita nesta quarta-feira (28) durante uma cerimônia nas obras de transposição do Rio São Francisco, em Cachoeira dos Índios, no sertão da Paraíba, desencadeou forte reação entre parlamentares da oposição.
Ao tentar exaltar sua trajetória e compromisso com a população nordestina, Lula afirmou que “Deus deixou o Sertão do Nordeste sem água porque sabia que eu seria presidente”. A fala, carregada de simbolismo, foi interpretada por adversários como uma banalização do sofrimento de milhões que convivem há décadas com a seca e a desigualdade hídrica.
A resposta mais dura veio do deputado federal Alfredo Gaspar (União-AL), que acusou o presidente de usar a fé do povo de maneira imprópria: “Deus não é cúmplice de político corrupto, nem deixa o povo sofrer por estratégia eleitoral. O sertanejo ainda sofre com sede. Tenha responsabilidade, Lula!”, disparou.
Também na oposição, o deputado Fábio Costa (PP) engrossou o coro crítico. Para ele, Lula cruzou uma linha ao instrumentalizar a religiosidade para fins políticos. “Dizer que o sertão ficou sem água porque ‘Deus sabia que ele traria’ é desrespeitoso com a fé do povo e com a história da luta do Nordeste. Isso não é fé, é arrogância”, disse.
Apesar das reações negativas, o presidente reforçou em seu discurso que a fome e a miséria causadas pela seca são, em sua visão, resultado de má gestão. “Fome por causa da seca é falta de vergonha na cara das pessoas que governam esse país”, afirmou, destacando que sua vitória nas eleições de 2022 foi amplamente respaldada pelo eleitorado nordestino.
A controvérsia em torno da fala revela não apenas a sensibilidade que envolve a temática do Sertão e da fé, mas também o quanto o discurso presidencial pode inflamar debates em um cenário político já bastante polarizado.