O clássico arroz com feijão, por décadas presença garantida no prato do brasileiro, já não ocupa mais o mesmo espaço na mesa. Dados da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) revelam que o consumo desses dois alimentos básicos atingiu em 2024 os menores índices desde a década de 1960.
Para muitos brasileiros, a rotina acelerada é um dos principais motivos para essa mudança de hábito. A consultora de viagens Julia Junqueira Guimarães, por exemplo, relata que optou por refeições mais práticas por conta da correria entre faculdade e trabalho. “Eu tenho um tempo muito curto de intervalo… então pensei numa opção prática”, explica.
A tendência também é percebida por quem trabalha diretamente com alimentação. Débora Araújo Cruz, dona de restaurante, afirma que mesmo quando arroz e feijão estão disponíveis no buffet, não são mais a primeira escolha dos clientes. “Apesar de estarem ali no início, as pessoas estão optando por outras combinações”, observa.
Os números reforçam essa mudança cultural. O consumo médio anual de arroz por pessoa chegou ao seu auge entre 1991 e 2000, com 47 quilos. Em 2024, caiu para apenas 34 quilos. Já o feijão teve seu pico de consumo na década de 1960, com média de quase 23 quilos por pessoa ao ano, mas também alcançou seu ponto mais baixo neste ano.
Segundo o pesquisador Alcido Wander, da Embrapa Arroz e Feijão, a transformação nos padrões familiares e nos estilos de vida é fundamental para entender essa queda. “Naquele tempo, as famílias eram maiores, a comida era feita em casa. Hoje, nas cidades, tudo é mais corrido e a oferta de refeições rápidas é constante”, analisa. A redução do consumo preocupa especialistas da saúde, já que alimentos como o feijão são considerados marcadores de uma alimentação saudável — e sua ausência pode contribuir para o aumento de doenças crônicas.