A presença de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas comemorações do Dia da Vitória, na Rússia, segue provocando atritos entre as diplomacias de Brasília e Kiev. Com a visita do presidente brasileiro a Moscou se aproximando, o governo ucraniano avalia a possibilidade de rebaixar suas relações diplomáticas com o Brasil.
A informação foi confirmada por fontes diplomáticas ucranianas ao Metrópoles. Autoridades ouvidas pela reportagem consideram a viagem de Lula à Rússia um “ato hostil”, com potencial para agravar ainda mais a já delicada relação entre Brasil e Ucrânia.
“Quando Lula vai à Moscou, ele não tem mandato algum para falar sobre a paz na Ucrânia. Ele tem ignorado o convite para visitar Kiev. Portanto, essa viagem apenas a Moscou, no meio de uma guerra russa agressiva que está matando civis, será considerada pela Ucrânia como um ato hostil, com todas as consequências negativas para a cooperação bilateral”, disse um diplomata envolvido no assunto. “Kiev está considerando rebaixar as relações diplomáticas”, revelou.
Ucrânia sem embaixador no Brasil
O possível enfraquecimento das relações entre Brasil e Ucrânia ocorre em um cenário de incerteza. Com a saída do embaixador ucraniano Andrii Melnyk para assumir um cargo na Organização das Nações Unidas (ONU), a representação da Ucrânia no Brasil ficará sem um diplomata de alto escalão por tempo indefinido.
No meio diplomático, manter uma embaixada sem embaixador é interpretado como um sinal de insatisfação do país representado em relação ao governo do país anfitrião.
Além da viagem de Lula à Rússia, governada por Vladimir Putin, a ausência de resposta ao convite para visitar Kiev também contribui para o clima tenso. Na semana passada, o embaixador Melnyk sugeriu que o presidente brasileiro aproveitasse a ida a Moscou para incluir uma parada na capital ucraniana. No entanto, até agora, as negociações não avançaram.
Fontes diplomáticas brasileiras disseram ao Metrópoles que ainda aguardam um “convite formal” para considerar uma possível visita de Lula à Ucrânia, governada por Volodymyr Zelensky. A afirmação, no entanto, foi mal recebida pela diplomacia ucraniana.
Segundo representantes ucranianos, o convite oficial está nas mãos de Lula “há 1 ano e 8 meses”. Trata-se de correspondências enviadas por Volodymyr Zelensky entre 2023 e 2024, solicitando encontros com o presidente brasileiro — pedidos que, até o momento, não foram atendidos.
Brasil negra crise
Apesar do descontentamento nos bastidores da diplomacia ucraniana, o Brasil nega a existência de uma crise com a Ucrânia. Diplomatas ouvidos pela reportagem afirmam que a prioridade da missão brasileira no país é resgatar a chamada “diplomacia presidencial”. No nível ministerial, segundo fontes com conhecimento do tema, as relações seguem funcionando normalmente — pelo menos do ponto de vista brasileiro.
Esse esforço de retomada começaria com uma conversa telefônica entre Lula e Zelensky. No entanto, o pedido já foi recusado duas vezes desde o início de abril. Dois fatores principais que têm dificultado esse contato são a promessa, ainda não cumprida, de uma ligação por parte do presidente brasileiro, além da viagem marcada a Moscou e da ausência de sinais concretos sobre uma possível visita a Kiev.
Quanto à indefinição sobre a nomeação do novo embaixador ucraniano em Brasília, a diplomacia brasileira nega qualquer “intenção de adiar a designação”. Segundo autoridades, o processo segue um trâmite “naturalmente lento”, que envolve “diversas etapas de análise”.
O Metrópoles entrou em contato com a diplomacia brasileira em Kiev, que está seis horas à frente do Brasil, para comentar sobre a recente declaração ucraniana e a ameaça de rebaixamento das relações diplomáticas. O Ministério das Relações Exteriores também foi consultado. Contudo, até a publicação da reportagem, não houve resposta. O espaço permanece aberto para manifestações.