O governo da China saiu publicamente em defesa do Brasil nesta quinta-feira (10), após a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados ao mercado norte-americano. A medida, considerada a mais alta entre as 22 anunciadas por Trump nesta semana, foi classificada por Pequim como um “abuso” comercial.
A reação veio por meio da porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, durante coletiva de imprensa. Segundo ela, o país asiático “sempre se opôs ao uso excessivo do conceito de segurança nacional” e condena “guerras comerciais e tarifárias”, que, na avaliação do governo chinês, “não têm vencedores”.
“A posição da China é muito clara. A China sempre se opôs a iniciativas que sobrecarregassem o conceito de segurança nacional e sempre defendeu que guerras comerciais e tarifárias não têm vencedores, e que o abuso de tarifas não interessa a ninguém”, afirmou Mao.
Contexto da crise
A imposição da nova tarifa, com início previsto para 1º de agosto, foi comunicada pelo próprio Trump em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No texto, o presidente norte-americano afirma que a medida responde ao que considera um “tratamento injusto” dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro pela Justiça brasileira, além de um suposto déficit comercial dos EUA em relação ao Brasil, o que é contestado por dados oficiais.
Bolsonaro foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral em 2023 por abuso de poder político e econômico nas eleições de 2022. Atualmente, é réu em processos que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado.
Trump, no entanto, segue demonstrando apoio ao ex-presidente brasileiro, a quem chama de vítima de uma “caça às bruxas”. Segundo ele, a situação judicial de Bolsonaro influenciou a decisão de aplicar a sobretaxa, além de alegações sobre prejuízos econômicos aos EUA, que não encontram respaldo em dados oficiais. Em 2024, o Brasil registrou déficit na balança comercial com os norte-americanos.
Alinhamento e impacto
A China, principal parceira comercial do Brasil, posiciona-se assim ao lado do país sul-americano num momento de tensão crescente nas relações comerciais com os Estados Unidos. Pequim também já foi alvo de medidas semelhantes por parte da Casa Branca durante os mandatos anteriores de Trump.
A resposta do governo brasileiro está em discussão, e inclui alternativas diplomáticas e jurídicas, além da possível aplicação da Lei da Reciprocidade Econômica, aprovada recentemente no Congresso Nacional. Um grupo de trabalho foi criado pelo Palácio do Planalto para definir as ações frente à decisão de Washington.
Líderes políticos, entidades do setor produtivo e governos estrangeiros já manifestaram preocupação com os efeitos da medida, que pode afetar diretamente setores estratégicos da economia brasileira, como agronegócio, indústria e energia.