A Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, tornou-se protagonista da transição energética nacional, ao concentrar 62% das áreas de usinas fotovoltaicas do país. Em 2024, eram 21,8 mil hectares do bioma ocupados por instalações solares, de um total de 35,3 mil hectares em todo o Brasil. Apesar desse avanço na geração limpa de energia, os dados também expõem a pressão sobre a vegetação nativa e revelam perdas históricas no bioma, especialmente em Alagoas.
Segundo levantamento da rede MapBiomas, Alagoas está entre os estados com menor proporção de cobertura natural da Caatinga: apenas 27% do território ainda preserva a vegetação típica do bioma. O índice é inferior ao de Sergipe (24%), o mais baixo, e distante dos estados que lideram a conservação, como Piauí (82%) e Ceará (68%).
No recorte nacional, a Caatinga perdeu 9,25 milhões de hectares de áreas naturais nos últimos 40 anos, o que corresponde a 14% de sua cobertura original. A agropecuária é o principal vetor de transformação: mais de um terço do bioma (37%) é hoje ocupado por atividades rurais, com destaque para a expansão das pastagens e lavouras temporárias.
As usinas fotovoltaicas representam uma nova frente de alteração no uso da terra. A maior parte da área convertida para energia solar (52,6%, ou 11,4 mil hectares) substituiu formações savânicas e florestais, enquanto 35% (7,5 mil hectares) estavam antes em áreas de pastagem. “Essa transição, embora contribua para a matriz energética limpa do país, levanta questões sobre a conservação da vegetação nativa na Caatinga”, avalia o professor Washington Rocha, coordenador da equipe do MapBiomas para o bioma.
Outro desafio é o histórico das queimadas. Entre 1985 e 2024, mais de 11,4 milhões de hectares da Caatinga foram atingidos pelo fogo, o equivalente a uma área maior que o território de Portugal. A formação savânica, predominante em Alagoas, é a mais afetada, concentrando 78% das ocorrências anuais.
O levantamento também mostra que, apesar das perdas, 55% dos municípios do bioma ainda preservam mais da metade de suas áreas naturais. No caso alagoano, a situação é preocupante: o estado aparece no limite inferior da lista, o que acende um alerta sobre a necessidade de políticas públicas de recuperação e preservação.
Atualmente, 10% da Caatinga está protegida por Unidades de Conservação (UCs), mas a maior parte delas é de uso sustentável, o que permite atividades econômicas em paralelo à conservação. Nessas áreas, houve redução de 11,8% da vegetação nativa nos últimos 40 anos.
O MapBiomas ressalta que a transição energética traz oportunidades, mas também impõe responsabilidades. No caso de Alagoas, o avanço da energia solar pode se tornar um aliado da preservação — desde que venha acompanhado de medidas de proteção ao que resta do bioma e de estratégias para restaurar áreas já degradadas.
Fonte: Jornal Extra de Alagoas