Uma articulação feita pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL) foi decisiva para pressionar o deputado Arthur Lira (PP-AL) a garantir na Câmara a aprovação do projeto que dá isenção do Imposto de Renda a quem ganha até R$ 5.000 por mês.
Há cerca de três semanas, o senador sugeriu ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que o governo deveria editar uma medida provisória para alterar a faixa de isenção do IR, promessa de campanha de Lula.
Na conversa, por telefone, Renan disse que Lira, relator do projeto na Câmara, estava segurando a proposta. A demora, afirmou o senador, tornaria impossível fazer com que a mudança valesse para 2026, já que existem regras com prazos de um ano de antecedência para esse tipo de alteração.
A possibilidade de editar uma MP passou a ser discutida pelo governo, mas, ao final, foi descartada.
Senado estava com texto pronto
No telefonema com o ministro da Fazenda, Renan lembrou Haddad que o Senado estava tocando um projeto semelhante ao de Lira.
No dia 9 de julho, momentos antes de o presidente americano Donald Trump anunciar o tarifaço sobre produtos brasileiros, Renan estava em seu gabinete trabalhando no material, que foi apresentado pelo colega Eduardo Braga (MDB-AM) —Renan ficou como relator.
Naquela época, seu plano já era encurralar Lira, tocando a proposta do IR na Casa vizinha.
No entanto, a crise que se instalou no país a partir daquele dia por causa da alta do imposto sobre os produtos brasileiros comprados pelos Estados Unidos adiou qualquer tentativa de colocar em prática o projeto do Imposto de Renda.
O tema foi retomado quando o clima político mudou.
E mudou ainda mais com os protestos em 21 de setembro, domingo em que manifestantes foram às ruas contra a PEC da Blindagem e o projeto de anistia.
Renan conversou com Braga para traçar uma estratégia para aprovar o projeto em tempo recorde, com apoio da oposição no Senado.
Ele colocou a proposta em votação na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), onde foi aprovada em caráter terminativo, ou seja, indo direto para a Câmara, sem passar pelo plenário.
Foi então que Lira desengavetou o projeto, que estava parado havia sete meses, e garantiu aprovação unânime, com os votos de 493 dos 513 deputados federais.
Adversários históricos na política local de Alagoas, Renan e Lira planejam concorrer às duas vagas do Senado na próxima eleição. E, para isso, ambos querem contar com o apoio do governo Lula e, principalmente, do eleitor do estado.
Fonte: Letícia Casado/Colunista do UOL