Você pode pensar várias coisas sobre o deputado federal Arthur Lira, menos que ele é burro. Pelo contrário, é um profissional da política à altura da elite no Congresso Nacional. O alagoano é o relator do projeto de lei que isenta do pagamento de IR os brasileiros que recebem até 5 mil reais. Seria de uma burrice espetacular que um relator de um projeto com esse alcance criasse problemas para aprovação no parlamento.
A isenção até 5 mil reais é uma promessa de campanha do então candidato Lula. Além disso, quem recebe entre 5 mil e 7 mil reais terá um desconto no pagamento do IR. A medida beneficia mais de 10 milhões de contribuintes individuais. O número de famílias beneficiadas é ainda maior. Mas a tramitação está emperrada de maneira inexplicável
O governo enviou o PL em março. Pois o senhor Arthur Lira, escolhido relator, cozinha o guisado há nada menos que seis meses. Para valer a partir de 2026, tem de ser aprovado ainda este ano. Todo deputado gostaria de botar sua assinatura na relatoria do projeto. É tocar adiante e correr pra galera. Só um burro seria contra uma medida como essa.
Então por que diabos Lira, um cara esperto acima da média, parece sabotar algo de interesse do país – e que ele mesmo pode sair bonito na fotografia após a aprovação? É o que todos se perguntam. Alguns dizem que é chantagem para vender caro seu aval particular. Há outras especulações, mas isso não vem ao caso agora.
Nas últimas semanas, o senador Renan Calheiros percebeu uma janela nessa parada. Com agilidade, ele conseguiu que um projeto paralelo, sobre o mesmo tema, fosse aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Temendo ser atropelado, Lira se enfureceu. Agora, diz que seu relatório está pronto para votação.
Em tese, o relator na Câmara deveria juntar o que foi aprovado pelo Senado ao projeto do governo. Mas isso não será feito por Arthur Lira – que não quer passar recibo para o rival Renan Calheiros. De todo modo, deu vitrine ao senador em jogo da maior relevância.
Como disse o grande Ricardo Kotscho, o caso revela que a Câmara Federal “virou mesmo uma grande Câmara de Vereadores”. Ou seja, o interesse paroquial se sobrepõe às urgentes demandas do país. E tudo isso sem o menor disfarce. Que desgraça!
Retomando o começo para encerrar, tem de tudo nesse enredo, menos burrice. Fazer o povo de besta, isto sim, é um clássico da política. Após a lambança de Arthur Lira, que o projeto seja aprovado sem mais enrolação, de preferência ainda ontem.
Fonte – Blog do Celio Gomes