A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS aprovou, nesta quinta-feira (25/9), um requerimento solicitando a prisão preventiva do advogado Nelson Willians Fratoni Rodrigues. O pedido está relacionado à investigação do escândalo envolvendo descontos indevidos em benefícios de aposentados e pensionistas.
O requerimento tem como base os pagamentos milionários realizados pelo escritório de Nelson Willians ao empresário Maurício Camisotti, um dos principais alvos da investigação em curso. Camisotti é apontado como peça central no esquema.
Apesar da aprovação pela CPMI, o pedido de prisão não tem efeito imediato. Ele ainda precisará ser analisado pela Polícia Federal (PF), que já demonstrou apoio à solicitação. No entanto, o ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou o pedido em decisão monocrática anterior.
O autor do requerimento, deputado Rogério Correia (PT-MG), argumenta que existem “veementes indícios de materialidade e autoria” envolvendo o advogado. Segundo o parlamentar, a liberdade de Nelson Willians representa riscos para a condução do processo.
Em um dos trechos do documento, o deputado afirma que a permanência de Willians em liberdade pode comprometer a ordem pública, além de ameaçar a instrução criminal, com indícios de intimidação de testemunhas e ocultação de bens. O requerimento ainda destaca o poder econômico e político do investigado, o que poderia dificultar a aplicação da lei penal.
A farra do INSS
- O escândalo do INSS foi revelado pelo Metrópoles em uma série de reportagens publicadas a partir de dezembro de 2023. Três meses depois, o portal mostrou que a arrecadação das entidades com descontos de mensalidade de aposentados havia disparado, chegando a R$ 2 bilhões em um ano, enquanto as associações respondiam a milhares de processos por fraude nas filiações de segurados.
- As reportagens do Metrópoles levaram à abertura de inquérito pela PF e abasteceram as apurações da Controladoria-Geral da União (CGU). Ao todo, 38 matérias do portal foram listadas pela corporação na representação que deu origem à Operação Sem Desconto, deflagrada no dia 23 de abril e que culminou nas demissões do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do então ministro da Previdência Social, Carlos Lupi.
Quem é Nelson Wilians
Conhecido por ostentar uma vida de luxo nas redes sociais, o advogado Nelson Wilians é proprietário de um dos maiores escritórios de advocacia do país. Em suas postagens, ele costuma exibir mansões, jatos particulares, carros de alto padrão e viagens internacionais, o que contrasta com seu envolvimento em um escândalo que envolve descontos indevidos em benefícios do INSS.
Embora atue como advogado de Maurício Camisotti, de empresas e de uma associação ligada ao empresário, foi Wilians quem realizou repasses financeiros ao cliente, tanto como pessoa física quanto por meio de sua banca de advocacia. Essas movimentações levantaram suspeitas e foram detectadas em relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Outro ponto que chamou atenção foi uma transação imobiliária de alto valor que liga os dois investigados. Em novembro de 2020, Camisotti adquiriu uma mansão por R$ 22 milhões no Jardim Europa, bairro nobre de São Paulo. O imóvel posteriormente foi incorporado ao jardim da mansão de Nelson Wilians, reforçando os indícios de proximidade financeira entre eles.
No dia 18 de setembro, Wilians prestou depoimento à CPMI do INSS. Logo no início da sessão, ele se recusou a assinar o termo de compromisso para dizer a verdade, decisão que gerou tensão no plenário. O relator da comissão, deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), confrontou o advogado sobre sua postura.
Segundo a justificativa apresentada, o advogado afirmou que preferiu não se comprometer com a verdade para evitar equívocos em suas declarações. Ele também lembrou que, por decisão do Supremo Tribunal Federal, estava dispensado legalmente de falar sob compromisso.