O advogado Nelson Wilians se recusou a assinar o termo de compromisso de dizer a verdade durante seu depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, que investiga fraudes bilionárias no Instituto. Logo no início da sessão, ele foi confrontado pelo senador e relator Alfredo Gaspar (União-AL), que questionou: “Qual é a dificuldade de assinar um termo de falar a verdade?”.
Wilians explicou que sua recusa se deve ao medo de cometer equívocos ou de dar uma resposta errada, mesmo que sem intenção. Ele argumentou que, caso se enganasse, poderia ser penalizado. O relator, por sua vez, garantiu que a CPMI tem a “sensibilidade” para diferenciar um equívoco de má-fé, ressaltando que, até o momento, nenhum depoente foi punido por erros.
Apesar da pressão, Wilians não assinou o termo e, amparado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), não é obrigado a falar a verdade. Ele inclusive ressaltou que, se estivesse representando um cliente, daria a mesma recomendação para que não assinasse o documento.
Envolvidos na Fraude e Próximos Depoimentos
A CPMI do INSS investiga uma complexa rede de fraudes que envolveu milhões de reais e prejudicou aposentados e pensionistas. A Polícia Federal e o Coaf identificaram diversas transações suspeitas e o envolvimento de figuras-chave, que também foram convocadas para depor.
Nelson Wilians: O advogado está no centro das investigações por movimentar R$ 4,3 bilhões em “operações suspeitas”, incluindo um pagamento de R$ 15 milhões a Maurício Camisotti, outro investigado no esquema. Ele também fez uma doação para a campanha do senador Rogério Marinho (PL-RN), que é membro da CPMI.
Romeu Carvalho Antunes: Filho de Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, Romeu atuava intensamente no esquema. A PF encontrou uma frota milionária de seis carros e uma moto em sua posse, e os rendimentos mensais declarados por ele saltaram de R$ 1,6 mil para R$ 107,6 mil em um curto período.
Tania Carvalho dos Santos: Esposa do “Careca do INSS”, Tania e seu marido negociaram o mesmo imóvel duas vezes em menos de seis meses, em transações que somaram R$ 353 milhões, suspeitas de serem usadas para ocultar a origem do dinheiro.
Cecília Montalvão Simões: Esposa de Maurício Camisotti, ela é sócia da Benfix, uma das empresas que fez contratos milionários com entidades associativas. Cecília movimentou R$ 295,2 milhões em operações suspeitas, e todo o seu “clã” movimentou quase R$ 790 milhões.
Rubens Oliveira Costa e Milton Salvador de Almeida Júnior: Ambos são sócios de Carlos Camilo Antunes e apareceram em transações suspeitas. Rubens, descrito pela PF como “carregador de mala” do “Careca do INSS”, sacou R$ 919,4 mil de empresas ligadas ao esquema. Já Milton Salvador ingressou em cinco sociedades com movimentações milionárias em apenas um mês.
O STF negou o pedido de Nelson Wilians, Romeu Carvalho e Cecília Montalvão para não comparecerem à CPMI, o que significa que todos serão obrigados a ir, embora possam permanecer em silêncio. A Comissão também aprovou a convocação de outros investigados para os próximos depoimentos.