O presidente do União Brasil, o advogado Antônio Rueda, teria sido citado nas investigações da Operação Carbono Oculto, que apura a suposta infiltração da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) nos setores financeiro e de combustíveis.
De acordo com apuração do portal Metrópoles, a Polícia Federal está investigando a possibilidade de que Rueda seja o proprietário oculto de jatos executivos, registrados em nome de terceiros e fundos de investimento.
Essas aeronaves são operadas pela empresa Táxi Aéreo Piracicaba (TAP), que também estaria sendo utilizada por dois dos principais alvos da operação: Roberto Augusto Leme da Silva, conhecido como “Beto Louco”, e Mohamad Hussein Mourad, apelidado de “Primo”, proprietário da refinaria Copape.
A TAP, apesar de seu envolvimento nas investigações, é reconhecida no setor da aviação privada e já prestou serviços a políticos com mandato. Um dos jatos, o Cessna 560XL de matrícula PRLPG, está formalmente em nome da empresa Magik Aviation, ligada à Bariloche Participações S.A., ambas com o mesmo presidente.
A Bariloche Participações, com sede no Itaim Bibi, em São Paulo, pertence aos empresários Haroldo Augusto Filho e Valdoir Slapak, que atuam no setor de mineração. Ambos são donos do grupo econômico Fource e foram alvos da Operação Sisamnes, deflagrada pela PF em 2023 para investigar a venda de sentenças no STJ.
Como revelado pelo Metrópoles, Haroldo e Slapak aparecem em mensagens encontradas no celular do advogado Roberto Zampieri, assassinado em dezembro de 2023, em Cuiabá (MT). As mensagens indicam conexões entre os investigados.
Os aportes de capital da Bariloche vêm de outro fundo homônimo, que por sua vez recebe investimentos do fundo Viena, administrado pela Genial Investimentos, uma das gestoras mencionadas na Carbono Oculto. Ambos os fundos têm características de “fundos caixa-preta”, frequentemente usados para ocultar patrimônio.
Nos registros da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), tanto o Bariloche FIP quanto o Viena constam com abstenção de opinião de auditoria, o que sugere falta de transparência — já que não forneceram documentação necessária para avaliação por auditores independentes.
Além do Cessna 560XL, outras aeronaves ligadas ao caso incluem um Cessna 525A, um Raytheon R390, e um Gulfstream G200, este último avaliado em cerca de US$ 18 milhões — aproximadamente R$ 100 milhões.
Entre os jatos mencionados, o Cessna 560XL se destaca como o maior, com capacidade para 12 pessoas (sendo 10 passageiros), autonomia de até 3.900 km e valor de mercado estimado entre US$ 2,4 e US$ 3,6 milhões.
Por fim, os registros da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) revelam que uma das aeronaves, o Raytheon, está registrada em nome de um dirigente estadual do partido Republicanos, no Ceará, ampliando o escopo político das investigações.
A Operação Carbono Oculto foi deflagrada em agosto deste ano pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP), em uma ação conjunta com a Polícia Federal (PF) e a Receita Federal. O foco da investigação foram aproximadamente mil postos de combustíveis que, entre 2020 e 2024, movimentaram mais de R$ 50 bilhões.
De acordo com os investigadores, o Primeiro Comando da Capital (PCC) teria se infiltrado em todas as etapas da cadeia de combustíveis — desde a importação de insumos até a distribuição nos postos. Além disso, a operação revelou o uso de fundos de investimento e fintechs como mecanismos para a lavagem de dinheiro, com o objetivo de dar aparência legal aos lucros do crime.
Ao ser procurado pela reportagem do Metrópoles, Antônio Rueda negou qualquer envolvimento com a Carbono Oculto. O presidente do União Brasil afirmou que seu nome foi citado em um “contexto absolutamente infundado”.
Rueda também declarou que irá adotar todas as medidas cabíveis para preservar sua imagem e proteger sua reputação diante das especulações levantadas pela investigação.