Relatório da Polícia Federal (PF) revelou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) buscou orientação junto ao advogado Martin De Luca, representante da empresa Rumble e da Trump Media & Technology Group, para aprimorar sua comunicação sobre o tarifaço imposto ao Brasil pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Em áudio obtido pela investigação, Bolsonaro mencionou ter redigido um texto elogiando Trump, afirmando que “a questão da liberdade tá muito acima da questão econômica”.
O ex-presidente solicitou a De Luca que o orientasse sobre como proceder com publicações nas redes sociais relacionadas ao tema, buscando ajustar sua mensagem de forma estratégica.
“Martin, peço que você me oriente também, me desculpa aqui tá, minha modéstia, como proceder. Eu fiz uma nota, acho que eu te mandei. Tá certo? Com quatro pequenos parágrafos, boa, elogiando o Trump, falando que a questão de liberdade tá muito acima da questão econômica. A perseguição a meu nome também, coisa que me sinto muito… pô fiquei muito feliz com o Trump, muita gratidão a ele. Me orienta uma nota pequena da tua parte, que eu possa fazer aqui, botar nas minhas mídias, pra chegar a vocês de volta aí. Obrigado aí. Valeu, Martin.”
Para a Polícia Federal, o pedido de orientação por parte do ex-presidente indica um alinhamento com interesses externos e uma tentativa de utilizar medidas de outro governo contra o Brasil em benefício próprio.
A defesa de Bolsonaro considera esse trecho como um dos pontos mais sensíveis do relatório, argumentando que o áudio poderia reforçar a tese de que ele teria atuado em coordenação com aliados de Trump para pressionar autoridades brasileiras, incluindo ministros do Supremo Tribunal Federal.
O relatório, divulgado nesta quarta-feira (20) pela PF, também traz registros de conversas entre Bolsonaro, Martin De Luca, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Silas Malafaia.
Além disso, o tom das mensagens entre pai e filho demonstrava tensão: Eduardo xingou o ex-presidente após uma entrevista em que Bolsonaro comentou sobre o conflito do filho com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), segundo apontou a Polícia Federal.
Em 15 de julho, Eduardo disse ao pai:
“Eu ia deixar de lado a história do Tarcísio, mas graças aos elogios que você fez a mim no Poder 360 estou pensando seriamente em dar mais uma porrada nele, para ver se você aprende”.
O deputado continuou:
“VTNC SEU INGRATO DO CARALHO!’
PF vê coação a ministros do STF e tentativa de abalar instituições
O relatório da Polícia Federal indica que Jair Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) agiram de maneira deliberada para intimidar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e interferir na Ação Penal 2668, que investiga a tentativa de golpe de Estado.
Segundo os investigadores, os dois produziram e divulgaram mensagens em redes sociais desafiando as medidas cautelares impostas, contando com o apoio do pastor Silas Malafaia.
As mensagens recuperadas de celulares apreendidos demonstram que os investigados tinham o objetivo de impedir uma eventual condenação de Bolsonaro e de outros réus, acusados de crimes como organização criminosa, golpe de Estado e tentativa de abolir violentamente o Estado democrático de direito.
“As mensagens demonstram que as sanções articuladas dolosamente pelos investigados foram direcionadas para coagir autoridades judiciais do Supremo Tribunal Federal”, diz o relatório.
Conversas expõem atrito entre Bolsonaro e filho e alinhamento com Trump
As conversas ainda expuseram desentendimentos entre Jair e Eduardo Bolsonaro. Em um dos diálogos, o deputado reconheceu que a atuação junto ao governo Trump tinha como principal objetivo proteger o ex-presidente de uma eventual condenação no processo relacionado à tentativa de golpe.
“Se a anistia light passar, a última ajuda vinda dos EUA terá sido o post do Trump. Eles não irão mais ajudar. (…) Temos que decidir entre ajudar o Brasil, brecar o STF e resgatar a democracia OU enviar o pessoal que esteve num protesto que evoluiu para uma baderna para casa num semiaberto.”
A Polícia Federal destacou que Eduardo Bolsonaro passou a publicar mensagens em inglês, buscando alcançar o público internacional e reforçando a aproximação com aliados do ex-presidente norte-americano Donald Trump.
Além disso, os investigadores encontraram no celular de Jair Bolsonaro um rascunho de pedido de asilo político dirigido ao presidente argentino, Javier Milei. No documento, o ex-presidente alegava estar sendo perseguido politicamente no Brasil e solicitava que a análise do pedido fosse feita em caráter de urgência.
Para a PF, esse registro evidencia que, desde 2024, Bolsonaro já planejava estratégias para deixar o país e tentar escapar da Justiça. Em resposta, a defesa do ex-presidente afirmou ao blog que a proposta, datada de fevereiro de 2024, foi descartada por ele.