A Fiscalização Preventiva Integrada (FPI) do Rio São Francisco identificou um desmatamento de grande proporção entre os municípios de Traipu e Batalha, em Alagoas, equivalente a cerca de 800 campos de futebol. Esse é o maior registro de devastação realizado no estado durante ações da FPI. O proprietário da área já acumula 22 autos de infração e mais de R$ 14 milhões em multas por crimes ambientais.
Durante a operação, os fiscais constataram que parte do desmatamento havia ocorrido dias antes da fiscalização, apresentando sinais claros de ilegalidade. O procurador da República Érico Gomes ressaltou que o responsável é considerado um grande infrator ambiental e que serão aplicadas medidas investigatórias e sancionatórias mais rigorosas para tentar frear a devastação na região.
“E é importante esclarecer que existem duas esferas de atuação: uma é a administrativa, feita pelo Ibama, com a aplicação de multa e com a lavratura do termos de embargo. A outra é o trabalho feito no âmbito civil e criminal, com o ajuizamento de ações pelos Ministérios Públicos Federal e Estadual, onde poderemos requerer o bloqueio de bens e outros tipos de medidas cautelares necessárias para recompor o dano causado, como, por exemplo, um plano de recuperação da área degradada”, acrescentou Érico Gomes.
“O impacto do desmatamento vai muito além da área devastada. Ele ameaça a biodiversidade, compromete o equilíbrio climático, agrava a escassez de água e atinge comunidades que dependem diretamente da natureza para sobreviver. Por isso, combater esse tipo de crime ambiental deve ser uma prioridade não apenas da FPI, mas de cada cidadão e cidadã”, defendeu Felipe Tenório, analista do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e coordenador da equipe Flora.
COP-30 reforça combate ao desmatamento
O enfrentamento ao desmatamento ilegal será tema central da COP-30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que acontecerá em 2025, na cidade de Belém. O encontro reunirá representantes de diversos países com o objetivo de promover a redução drástica do desmatamento, identificado como um dos principais fatores que aceleram o aquecimento global. De acordo com o procurador da República, “com o combate ao desmatamento ilegal, a FPI está cumprindo um dos principais objetivos da COP-30, ligado ao desenvolvimento sustentável, à diminuição da emissão de gás carbônico e de outros poluentes que afetam o efeito estufa e as mudanças climáticas”.
Em Alagoas, a recente operação da FPI evidencia a necessidade urgente de ações firmes contra a devastação ambiental. Os órgãos envolvidos alertam que a destruição de cada hectare de vegetação representa uma perda irreparável para as futuras gerações, reforçando que a preservação não é um problema distante, mas uma responsabilidade imediata de todos.
Perícia investiga uso de herbicida em área desmatada
No momento do flagrante, o Instituto de Criminalística também foi acionado para reforçar as investigações. Peritos criminais coletaram perfis genéticos nas tampas dos recipientes encontrados no local, buscando identificar possíveis responsáveis pela degradação ambiental. Ao todo, foram recolhidas 15 embalagens de herbicidas, substâncias utilizadas para promover o desmatamento químico.
Além da coleta das embalagens, uma amostra do líquido armazenado em um dos recipientes foi enviada para análise laboratorial. A perícia tem como objetivo confirmar se o material é, de fato, herbicida, possivelmente utilizado para acelerar a destruição da vegetação nativa.
O descarte irregular desses produtos químicos a céu aberto no meio da mata aumenta ainda mais o impacto ambiental, contaminando o solo e colocando em risco a fauna local. Os resultados dos exames serão essenciais para embasar ações legais e criminais contra os responsáveis pelo maior desmatamento registrado em uma etapa da FPI em Alagoas.
A equipe Fauna, responsável pela fiscalização, é formada pelo Ibama, pelo Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) e pelo Batalhão de Polícia Ambiental (BPA). Na operação realizada no dia 19, o grupo contou ainda com o apoio da Polícia Científica, ampliando a capacidade investigativa da ação.