O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atribuiu a atual crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos ao apoio do ex-presidente Donald Trump ao ex-mandatário brasileiro Jair Bolsonaro. Em entrevista concedida ao jornal The New York Times, Lula criticou duramente a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, como café, carne bovina e suco de laranja, que começam a valer nesta sexta-feira (1º/8), e alertou que o impacto será sentido também pela população americana.
“Nem o povo americano nem o povo brasileiro merecem isso”, declarou Lula, destacando que a relação de 201 anos entre os dois países está sendo substituída por uma política de “perdas mútuas”. Segundo ele, a medida anunciada por Trump rompe com princípios básicos da diplomacia e da negociação internacional.
Durante a entrevista realizada no Palácio da Alvorada, em Brasília, o presidente brasileiro adotou um tom firme, mas buscou manter a disposição para o diálogo. Lula afirmou que o Brasil está tratando o episódio com seriedade, mas exigiu respeito por parte dos norte-americanos. “Seriedade não exige subserviência. Trato a todos com muito respeito. Mas quero ser tratado com respeito”, afirmou.
O presidente relatou tentativas frustradas de diálogo com autoridades americanas, incluindo o envio de ministros para abrir conversas com seus respectivos pares. “Pedi para entrar em contato. Designei meu vice-presidente, meu ministro da Agricultura, meu ministro da Economia… Até agora, não foi possível”, lamentou.
Segundo Lula, o governo brasileiro chegou a realizar dez reuniões com o Departamento de Comércio dos EUA e enviou uma carta formal em maio solicitando negociações. A resposta, no entanto, veio de forma inesperada: por meio de uma postagem do ex-presidente Trump na rede social Truth Social, anunciando as tarifas. “O comportamento do presidente Trump se desviou de todos os padrões de negociação e diplomacia”, criticou.
O líder brasileiro classificou como “vergonhoso” o anúncio feito pelas redes sociais e cobrou uma postura mais civilizada por parte da Casa Branca. “Quando você tem um desentendimento comercial ou político, você pega o telefone, marca uma reunião e tenta resolver. O que você não faz é cobrar impostos e dar um ultimato”, afirmou.
Além das tarifas comerciais, Lula demonstrou preocupação com o que classificou como uma escalada política mais grave: a revogação dos vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e as possíveis sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, com base na Lei Magnitsky Global.
De acordo com Trump, as punições seriam uma resposta às supostas “ordens de censura” impostas pelo STF contra empresas de tecnologia norte-americanas. Enquanto isso, Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, está em Washington fazendo lobby para viabilizar as sanções contra Moraes.
Lula reagiu com cautela, mas firmeza: “Se o que você está me dizendo for verdade, é mais sério do que eu imaginava. O Supremo Tribunal Federal de um país precisa ser respeitado não só pelo seu próprio país, mas pelo mundo.”
O presidente concluiu fazendo um apelo por racionalidade nas relações bilaterais: “Espero, portanto, que a civilidade retorne à relação Brasil-EUA.”