A ala mais radical da direita brasileira, liderada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, iniciou uma mobilização com vistas às eleições de 2026, com o objetivo de ampliar a presença conservadora no Congresso Nacional. O foco central da estratégia é conquistar ao menos 50% das cadeiras da Câmara dos Deputados e do Senado, o que daria força política para pautas como o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Durante um ato realizado em junho na Avenida Paulista, Bolsonaro discursou do alto de um trio elétrico pedindo que seus apoiadores elejam a metade do Congresso. A movimentação foi reforçada por senadores como Damares Alves (Republicanos-DF) e Magno Malta (PL-ES), que lideraram os discursos mais recentes pela abertura de um processo de impeachment contra Moraes.
Atualmente, tramitam no Senado 29 pedidos de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, sendo o mais recente apresentado por Flávio Bolsonaro (PL-RJ). A proposta, no entanto, enfrenta dificuldades para avançar. De acordo com a senadora Margareth Buzzetti (PSD-MT), não adianta formar comissões se o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), não estiver disposto a pautar o tema.
Para que um processo de impeachment seja aberto, é necessário que o presidente do Senado aceite a denúncia e forme uma comissão com 21 senadores. O parecer dessa comissão precisa de ao menos 11 votos favoráveis. Caso o processo avance, ainda é necessária uma maioria simples no plenário, com 41 votos, para afastar o ministro temporariamente e iniciar o julgamento, que só ocorre com dois terços da Casa (54 votos).
Hoje, os partidos mais alinhados à extrema direita somam 26 senadores, número ainda distante do necessário para aprovar a medida. Segundo especialistas, a proposta só tem apoio entre os chamados “bolsonaristas raiz”.
Para cientistas políticos ouvidos pelo UOL, a insistência no tema do impeachment é parte de uma estratégia para “fazer barulho” e mobilizar a base eleitoral conservadora para 2026. O objetivo, segundo eles, é renovar o Senado com parlamentares alinhados à direita radical e conquistar dois terços das vagas, o número necessário para aprovar pautas como o impedimento de ministros do STF.
Apesar do discurso público, nos bastidores, senadores da base bolsonarista admitem que há pouca viabilidade política para levar o tema adiante neste momento. “Não vamos recuar diante do silêncio conveniente de quem deveria zelar pelo funcionamento democrático do Congresso”, disse Magno Malta, ao criticar a postura de Davi Alcolumbre.
Ainda durante discurso ao lado de Damares Alves, Malta chegou a ameaçar o ministro Alexandre de Moraes, afirmando que se Bolsonaro for preso, ele próprio reagiria: “Põe a mão nele e tenta a sorte. O azar você já tem”.