Nessa quinta-feira (24), durante cerimônia de entregas do governo federal em Minas Novas (MG), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que os minerais estratégicos do Brasil, como o lítio e o nióbio, precisam ser protegidos por pertencerem ao povo brasileiro. A declaração ocorre após os Estados Unidos manifestarem interesse nesses recursos minerais.
“Temos todo o nosso petróleo para proteger. Temos todo o nosso ouro para proteger. Temos todos os minerais ricos que vocês querem para proteger. E aqui ninguém põe a mão. Este país é do povo brasileiro”, disse Lula.
Na quarta-feira (23), durante reunião com representantes do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos em Brasília, Gabriel Escobar, reiterou o interesse norte-americano nos minerais críticos e estratégicos (MCEs) do Brasil, especialmente nas chamadas “terras raras”. Esses elementos são essenciais para a transição energética e para tecnologias avançadas, como chips, baterias, turbinas e armamentos modernos.
O presidente do Ibram, Raul Jungmann, que também já atuou como ministro da Defesa e da Segurança Pública no governo Michel Temer, confirmou que Escobar reafirmou o interesse dos EUA no setor mineral brasileiro, repetindo o que havia sido dito em um encontro anterior, realizado cerca de três meses atrás.
Segundo Jungmann, “o que ele falou é que os EUA tinham interesse nos MCEs, o que, aliás, ele já tinha nos falado há três meses”, reforçando a continuidade do diálogo entre os dois países sobre o tema.
Brasil, EUA e tarifas
Em meio à escalada das tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos, realizou-se a reunião em que foram discutidos os interesses no setor mineral brasileiro. A partir de 1º de agosto, o governo dos EUA deve aplicar uma taxa de 50% sobre produtos brasileiros, conforme anunciado pelo presidente Donald Trump.
O governo Lula enxerga essa medida como uma retaliação política, especialmente após a carta enviada pelo presidente americano, na qual ele expressa oposição às decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) relacionadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Potencial estratégico do Brasil
O Brasil é um dos poucos países no mundo que possuem reservas significativas de minerais críticos, incluindo nióbio, lítio, cobre, grafite, cobalto e os chamados elementos terras raras — um grupo de 17 metais essenciais para setores de alta tecnologia, defesa e energia renovável.
De acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos, o Brasil detém a segunda maior reserva conhecida de terras raras no planeta, ficando atrás apenas da China, que lidera a produção global desses minerais.
A China exerce domínio sobre toda a cadeia global de produção desses recursos e, em resposta a tensões comerciais, já impôs restrições à exportação para os Estados Unidos. Para reduzir essa dependência, Washington tem buscado diversificar seus fornecedores e estabelecido acordos estratégicos com aliados como Ucrânia e Austrália.
Recentemente, o governo norte-americano demonstrou interesse em fortalecer sua parceria com a Ucrânia, país que enfrenta uma guerra com a Rússia há três anos. Esse interesse se traduz em apoio financeiro e em acordos que envolvem o fornecimento e a exploração de minerais críticos.
Como parte dessa estratégia, os Estados Unidos e a Ucrânia assinaram um acordo estratégico que prevê a criação de um fundo conjunto para a exploração de minerais como lítio, titânio, grafite e urânio. O objetivo é fortalecer a economia ucraniana e diminuir a dependência ocidental da China na obtenção desses insumos essenciais.