A decisão do governo dos Estados Unidos, liderado pelo presidente Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, gerou forte reação da indústria alagoana, especialmente do setor sucroalcooleiro. Em São Miguel dos Campos, município que responde por mais de 90% das exportações de açúcar de Alagoas para o mercado norte-americano, o temor é de que a medida inviabilize futuras negociações comerciais.
De acordo com o diretor Financeiro e Comercial da Usina Caeté, Araken Barbosa, ainda não houve cancelamentos formais de contratos, mas o novo cenário cria um impasse. “Ao taxar em 50% nossas exportações, haverá uma inviabilidade nos preços, acarretando uma mudança nas negociações dos produtos que tradicionalmente são embarcados entre dezembro e fevereiro. Se o comprador não assumir o custo da nova taxação, não haverá vendas para os Estados Unidos”, explicou.
A Usina Caeté, uma das maiores do setor no Nordeste, possui unidades em Alagoas e São Paulo e emprega mais de oito mil pessoas. O possível recuo nas exportações afeta não apenas a empresa, mas toda a economia regional.
A Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (FIEA) classificou a medida como “injustificável” e alertou para seus impactos negativos. Segundo a FIEA, os Estados Unidos foram o terceiro maior destino das exportações alagoanas em 2024, movimentando mais de US$ 61 milhões — com o açúcar como principal produto enviado.
“O impacto será direto sobre empregos, investimentos e competitividade da indústria. Esperamos que prevaleça o diálogo diplomático e comercial, com vistas à manutenção de uma relação estratégica entre os dois países”, afirmou o presidente da FIEA, José Carlos Lyra de Andrade.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também criticou a medida americana, destacando que a taxação compromete a previsibilidade dos contratos e amplia o cenário de incertezas no comércio internacional. Especialistas apontam que a decisão dos EUA reforça um movimento global de políticas protecionistas e menos cooperativas.
Em reação à medida, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN Internacional, que o Brasil está disposto a negociar, mas não aceitará imposições unilaterais. “O Brasil não aceitará nada que lhe seja imposto. Aceitamos negociação e não imposição”, disse Lula, destacando que deseja manter boas relações com os EUA, mas sem abrir mão da soberania brasileira. “Não queremos ser feitos de reféns. Queremos ser livres.”
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil exportou 3,36 milhões de toneladas de açúcar em junho de 2025, crescimento de 48,7% em relação ao mês anterior. O volume também supera as 3,19 milhões de toneladas registradas em junho de 2024. A taxação, no entanto, pode interromper essa trajetória de crescimento, especialmente nas vendas para o mercado americano.