Declaração foi feita durante congresso da UNE, após anúncio de tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e investigação por supostas práticas comerciais desleais
Em discurso inflamado durante o 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (Conune), em Goiânia (GO), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reagiu à recente medida adotada pelos Estados Unidos contra o Brasil. O governo norte-americano anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e abriu uma investigação sobre supostas práticas desleais de comércio. Em resposta, Lula afirmou que o país não aceitará imposições externas.
“Não é um gringo que vai dar ordem para este presidente da República”, declarou, em referência direta ao presidente dos Estados Unidos, durante sua participação no evento estudantil nesta quinta-feira (17/7).
O chefe do Executivo criticou duramente a postura norte-americana e afirmou que seu governo tem privilegiado o caminho da negociação, conduzido pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Em tom bem-humorado, Lula comparou as tratativas diplomáticas a uma partida de truco: “Quando o cara truca, a gente tem que escolher: eu corro ou grito ‘seis’ na orelha dele. Eu estou jogando. O Brasil gosta de negociação”.
O petista também fez duras críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), a quem atribui parte da responsabilidade pelas sanções impostas ao Brasil. Para Lula, ambos devem ser tratados como “traidores”.
“Eles agora têm que ser tratados por nós como os traidores da história deste país, do século 21. Que tenham vergonha, se escondam da sua covardia e deixem este país em paz, porque não tiveram nenhuma preocupação com os prejuízos que essa taxação vai trazer ao povo brasileiro, à indústria, à agricultura, aos serviços, ao salário do povo… Nenhuma preocupação”, afirmou.
Conflito diplomático
O anúncio das sanções econômicas foi feito pelo Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR), que alegou haver práticas comerciais desleais por parte do Brasil, prejudicando empresas americanas. Entre os pontos criticados pelos norte-americanos estão o funcionamento do sistema Pix e a venda de produtos falsificados.
Além da sobretaxa, a abertura de investigação sinaliza o aprofundamento das tensões diplomáticas entre os dois países. Em carta enviada ao governo brasileiro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, justificou a medida como uma retaliação às ações do Supremo Tribunal Federal (STF) contra Bolsonaro, classificadas por ele como parte de uma “caça às bruxas”.
Segundo Lula, o conteúdo da carta foi uma tentativa de intimidação: “Ou dá, ou desce”. De acordo com o presidente brasileiro, Trump condicionou a suspensão das tarifas à não prisão de Bolsonaro.
Medidas do governo brasileiroDiante do cenário, o governo Lula tem intensificado o diálogo com empresários e o Congresso Nacional para formular estratégias de resposta. Entre as possibilidades está a adoção de contramedidas com base na Lei da Reciprocidade Econômica.
As negociações estão sendo lideradas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, que também responde pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Segundo o Planalto, a prioridade é preservar a soberania nacional e mitigar os impactos das sanções sobre a economia brasileira.