Após a troca de críticas públicas entre o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta terça-feira (15/7) que o desentendimento foi superado. Em entrevista ao portal Poder360, Bolsonaro disse ter conversado com ambos e colocado “uma pedra em cima do assunto”.
“Hoje eu conversei com Eduardo e Tarcísio e foi colocada uma pedra em cima desse assunto. Não podemos dividir. Tarcísio é um grande gestor, nada de críticas a ele”, declarou o ex-presidente.
A crise interna no grupo bolsonarista foi deflagrada em meio à repercussão das tarifas de até 50% impostas pelo governo dos Estados Unidos a produtos brasileiros. O presidente americano Donald Trump justificou a medida como uma resposta à “perseguição política” contra Bolsonaro, referindo-se aos processos enfrentados pelo ex-mandatário no Supremo Tribunal Federal (STF).
Defesa de São Paulo
Na tentativa de conter os efeitos da medida para a economia paulista, o governador Tarcísio de Freitas intensificou o diálogo com diplomatas e representantes da Embaixada dos EUA, como o encarregado de negócios Gabriel Escobar. O objetivo das reuniões, realizadas em Brasília e no Palácio dos Bandeirantes, foi minimizar os impactos econômicos das novas tarifas sobre setores estratégicos como agronegócio, aviação, citricultura e indústria de máquinas.
A atitude do governador, no entanto, gerou críticas de Eduardo Bolsonaro, que utilizou as redes sociais para acusá-lo de ignorar os canais de interlocução internacional já estabelecidos pelo clã Bolsonaro com o governo Trump.
“Tarcísio nunca me ligou. Há uma tentativa de usar outros canais e não o do presidente Bolsonaro. Outros canais já se mostraram ineficientes”, afirmou Eduardo em entrevista ao Metrópoles.
Troca de farpas nas redes sociais
Durante nova reunião de Tarcísio com empresários e diplomatas nesta terça (15), Eduardo voltou a criticá-lo no X (antigo Twitter):
“Se você estivesse olhando para qualquer parte da nossa indústria ou comércio, estaria defendendo o fim do regime de exceção que irá destruir a economia brasileira e nossas liberdades”, publicou.
E acrescentou:
“Mas como, para você, a subserviência servil às elites é sinônimo de defender os interesses nacionais, não espero que entenda.”
Resposta moderada
Tarcísio, que foi ministro da Infraestrutura no governo Bolsonaro e é visto como possível herdeiro político do ex-presidente, respondeu com cautela às críticas. Em entrevista à CNN, destacou seu compromisso com o desenvolvimento de São Paulo:
“Sem problema [sobre a posição de Eduardo]. Neste momento, estou olhando para São Paulo, para o seu setor industrial, para sua indústria aeronáutica, de máquinas e equipamentos, para o nosso agronegócio, para nossos empreendedores e trabalhadores.”
Em nota pública, o governo estadual reforçou que a carta de Donald Trump não foi abordada oficialmente durante a reunião com Escobar. O foco foi discutir os efeitos econômicos das novas tarifas sobre o setor produtivo paulista e defender os interesses da indústria local.
Nota oficial do governo de São Paulo
“O Governo do Estado de São Paulo reuniu nesta terça-feira (15) o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, e empresários de setores da economia paulista que concentram a pauta de exportações.
Durante o encontro, o governador Tarcísio de Freitas falou da importância do diálogo e do fortalecimento das parcerias com os Estados Unidos. Os representantes do Estado, junto aos empresários, expuseram o potencial impacto das novas tarifas, inclusive nos preços de produtos americanos.”
“O Governo do Estado reforça seu compromisso com o produtor, empresários e agronegócio paulista, e fará todo esforço necessário para garantir o melhor desfecho ao setor produtivo, bem como seus milhões de empregos gerados direta e indiretamente.”
Apesar da tentativa de pacificação feita por Jair Bolsonaro, o episódio evidencia as tensões crescentes no campo da direita brasileira, especialmente em um cenário de disputas políticas internas e preparação para as eleições de 2026.