Os Estados Unidos são os maiores consumidores de café do mundo, contando com o Brasil como seu principal fornecedor para atender à elevada demanda pela bebida. Atualmente, o país depende do grão brasileiro para suprir cerca de um terço do mercado norte-americano, sendo responsável por 17% de todas as exportações brasileiras de café entre janeiro e maio deste ano.
A recente tarifa de 50% anunciada pelo presidente Donald Trump, que está prevista para entrar em vigor no dia 1º de agosto, tem gerado preocupação entre especialistas e associações do setor. O aumento da taxa pode causar um impacto significativo para importadores e consumidores nos EUA, afetando diretamente o comércio bilateral de café.
Além disso, o preço do café já está elevado nos Estados Unidos, e a imposição dessa tarifa pode agravar ainda mais o cenário, dificultando a reposição do produto brasileiro por outros fornecedores internacionais, que possuem produção menor. Isso poderia inviabilizar o abastecimento e prejudicar o mercado consumidor norte-americano.
Caso a tarifa seja efetivada, exportadores brasileiros poderão buscar novos mercados para o café, enquanto os EUA enfrentariam desafios para suprir a demanda interna com outras origens, o que evidencia o caráter político e punitivo da medida adotada pelo governo Trump.
O impacto dentro dos Estados Unidos
Os Estados Unidos produzem apenas 1% do café que consomem, tornando-se altamente dependentes das importações para atender à demanda interna. Caso a tarifa de 50% seja implementada, o país enfrentará dificuldades para suprir seu mercado, já que o Brasil responde por cerca de 40% da oferta mundial de café. Essa dependência faz com que os norte-americanos provavelmente reduzam as compras do produto brasileiro diante do aumento dos custos.
De acordo com a Cogo Consultoria, a nova taxa tornaria o comércio de café entre Brasil e Estados Unidos praticamente inviável. Como consequência, a indústria cafeeira dos EUA teria que buscar novos fornecedores, que possuem produções significativamente menores e preços mais elevados, elevando ainda mais o custo do café no mercado norte-americano.
“O Brasil é o principal fornecedor, responsável por 34% do café que os americanos importam. São 8 milhões de sacas. Imagine só como eles fariam para redirecionar a aquisição desse café de outros países”, diz Fernando Maximiliano.
A disparidade na produção do café arábica entre o Brasil, líder mundial, e a Colômbia, segunda maior produtora, ilustra a dificuldade enfrentada pelos Estados Unidos, que dependem principalmente dessa variedade para suas importações.
“O Brasil produz cerca de 40 milhões de sacas de café arábica por ano, e a Colômbia, entre 12 e 13 milhões. A Colômbia não teria esse café todo para substituir o Brasil”, resume Maximiliano.
A ausência do café brasileiro no mercado dos Estados Unidos poderia elevar ainda mais o preço da bebida no país. Dados do governo norte-americano apontam que, entre junho de 2024 e maio de 2025, o valor do café já teve um aumento de 32,4%.
“Eles [norte-americanos] estão extremamente preocupados”, resume Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
No momento, os importadores americanos enfrentam poucas opções além de tentar negociar diretamente com o governo Trump para evitar o aumento das tarifas. Essa mediação já está em andamento, conduzida pela Associação Nacional de Café dos Estados Unidos (NCA, na sigla em inglês).
Em abril, William Murray, presidente da NCA, revelou que o setor estava em contato com a Casa Branca para buscar a isenção das tarifas sobre o café brasileiro. Naquela ocasião, a taxa aplicada ao Brasil era de 10%, percentual que permanece vigente até hoje.
O impacto (e as alternativas) para os exportadores brasileiros
Para os exportadores brasileiros, a situação é preocupante. Marcos Matos, do Cecafé, descreve como “a grande tensão do momento” a possibilidade de perder o maior importador do café brasileiro.
Buscar novos mercados é uma alternativa necessária caso a tarifa entre em vigor. Segundo Matos, a associação já comunicou ao Ministério da Agricultura sobre países como China, Índia, Indonésia e Austrália, que atualmente importam café brasileiro e podem ampliar suas compras.
A recomendação das entidades do setor, como a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) e o Cecafé, é que o Brasil priorize a diplomacia para resolver a questão. Em nota, a Abic destacou a importância de uma atuação estratégica e firme, focada na defesa dos interesses do setor e da nação.
Marcos Matos reforça que o Cecafé está trabalhando em conjunto com a NCA para manter o diálogo com o governo Trump. “Estamos esperançosos de que o bom senso e a previsibilidade de mercado prevaleçam, pois quem realmente sofrerá com essa medida será o consumidor norte-americano”, concluiu.