O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), classificou nesta quinta-feira (10) como “eminentemente política” a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A medida, anunciada na última quarta (9), é a mais alta entre as novas taxas determinadas por Trump a 22 países e deve entrar em vigor a partir de 1º de agosto.
Durante entrevista ao programa Barão Entrevista, do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Haddad afirmou que a decisão do governo norte-americano não tem “qualquer racionalidade econômica” e responsabilizou setores da direita brasileira, especialmente aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, pelo agravamento das relações com os Estados Unidos.
“O Brasil teve, nos últimos 15 anos, um déficit de mais de US$ 400 bilhões com os EUA. Não há justificativa econômica para essa decisão, ela é puramente política”, disse o ministro.
Ele também citou o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que declarou que “sem o perdão [de Trump], as coisas tendem a piorar”. Para Haddad, essa fala revela que a medida americana está ligada a pressões políticas internas. “Até a extrema direita vai ter que reconhecer, mais cedo ou mais tarde, que deu um tiro no pé”, afirmou.
Críticas a Tarcísio e defesa da soberaniaHaddad ainda criticou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), por sua postura diante do caso. Segundo o ministro, o governador teria se mostrado submisso aos EUA ao não condenar a elevação tarifária.
“Ou bem uma pessoa é candidata à presidência, ou é candidata a vassalo. E não há espaço no Brasil para vassalagem — desde 1822 isso acabou. Ajoelhar diante de uma agressão unilateral sem fundamento econômico é inadmissível”, afirmou.
Brics e parcerias internacionais
O ministro também mencionou a postura hostil de Trump em relação ao Brics, grupo de países emergentes que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Haddad afirmou que o Brasil está aberto a relações diplomáticas e comerciais com diversas nações, respeitando a soberania e os interesses econômicos mútuos.
“Temos muitas áreas de interesse comum com os Estados Unidos. Não mudamos nossa atitude em relação ao governo norte-americano e continuamos abertos a parcerias. Mas não aceitaremos imposições”, disse.
Segundo ele, o Brasil tem dimensão e relevância para não se submeter a blocos ou pressões unilaterais.
Reação do governo brasileiroEm resposta à medida norte-americana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o Brasil não aceitará ser tutelado por nenhuma potência estrangeira. O governo estuda aplicar a Lei da Reciprocidade Econômica, aprovada pelo Congresso em resposta à política tarifária protecionista dos EUA, e que permite a adoção de medidas similares contra países que impuserem barreiras comerciais ao Brasil.
As novas tarifas anunciadas por Trump variam de 20% a 50%, dependendo do país, com validade a partir de agosto. O Brasil foi o único país a receber a alíquota máxima. Especialistas apontam que a medida pode afetar setores estratégicos da exportação brasileira, como o agronegócio e a indústria de base.
Comunicação e fake newsHaddad encerrou a entrevista ressaltando a importância de o governo federal aprimorar sua comunicação com a sociedade, especialmente diante da propagação de desinformação nas redes sociais. Segundo ele, as fake news comprometem o entendimento das políticas públicas e enfraquecem a confiança da população nas instituições.
“Temos que enfrentar isso com clareza e melhorar nossa comunicação. Só assim conseguiremos avançar com responsabilidade e transparência”, concluiu.