Diante do aumento expressivo no consumo de energia elétrica no país, especialmente nas primeiras horas da noite, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) avalia recomendar ao governo federal a retomada do horário de verão. A proposta surge como uma possível estratégia para redistribuir o uso da eletricidade ao longo do dia e aliviar a pressão sobre o sistema nos momentos de maior demanda.
A projeção de crescimento da carga energética para o segundo semestre deste ano acendeu o alerta entre os técnicos do setor. Segundo o ONS, a faixa entre 18h e 21h tem concentrado picos de consumo impulsionados por temperaturas elevadas e pelo uso intensivo de aparelhos como ar-condicionado. A preocupação está na capacidade de resposta do sistema para atender a essa demanda crescente, que já exige medidas de reforço e planejamento mais rigoroso para os próximos meses.
De acordo com o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, ainda em julho será entregue ao Ministério de Minas e Energia (MME) um parecer técnico com dados atualizados sobre o comportamento do consumo. “O horário de verão poderá ser imprescindível para atender à demanda”, afirmou Ciocchi, ao defender a proposta como uma medida emergencial em meio a um cenário de estresse na rede elétrica.
O debate em torno do retorno do horário de verão não se limita ao consumo direto. O avanço de fontes intermitentes, como a energia solar e eólica, tem imposto novos desafios à operação do sistema, exigindo maior flexibilidade e capacidade de resposta em tempo real. “Com o crescimento das fontes intermitentes, novos desafios também surgiram para a operação. Precisamos cada vez mais de flexibilidade no sistema, com fontes de energia controláveis, que nos atendam de forma rápida para termos o equilíbrio entre a oferta e a demanda de energia, especialmente nos horários em que temos as chamadas rampas de carga”, afirmou Marcio Rea, também diretor do ONS.
As projeções do Plano da Operação Energética (PEN 2025) indicam que a carga de energia deve crescer 14,1% até 2029, o que torna ainda mais urgente a adoção de soluções estruturantes. Para o ONS, a combinação de investimentos em fontes convencionais, como hidrelétricas, com medidas de gestão da demanda — entre elas, o horário de verão — pode ser fundamental para manter a estabilidade do sistema.
Ainda que o parecer do ONS traga embasamento técnico, a decisão final sobre o eventual retorno da política cabe ao governo federal, que deverá considerar impactos sociais, econômicos e setoriais. A última vez que o Brasil adotou oficialmente o horário de verão foi em 2018, antes de sua suspensão em 2019. À época, o Ministério de Minas e Energia avaliou que a mudança já não trazia benefícios significativos devido à transformação no perfil de consumo dos brasileiros, cada vez mais dependente de climatizadores e equipamentos ligados durante todo o dia.
Implementado de forma intermitente desde 1931, o horário de verão foi usado de forma mais sistemática a partir da década de 1980, com foco nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste — onde a diferença na luminosidade ao longo do ano é mais perceptível. Sua principal vantagem histórica era a redução da demanda por energia elétrica no início da noite, especialmente no setor de iluminação pública. No entanto, sua eficácia passou a ser questionada com a modernização do consumo e a diversificação da matriz energética.
Agora, diante do risco iminente de sobrecarga e da necessidade de garantir segurança energética nos horários críticos, a proposta volta ao centro da agenda. Resta saber se, desta vez, os argumentos técnicos serão suficientes para convencer o governo e a sociedade da necessidade de um novo ajuste nos ponteiros.