Durante a reunião anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), nesta sexta-feira (4), no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu a criação de uma nova política de financiamento global, sem condicionalidades e distante do modelo tradicional de austeridade econômica.
Segundo ele, o modelo atual fracassou em todo o mundo e tem aprofundado desigualdades sociais. “O modelo da austeridade não deu certo em nenhum país do mundo. Toda vez que se faz austeridade, o pobre fica mais pobre e o rico fica mais rico. É isso que nós temos que mudar”, declarou Lula, acrescentando que os bancos devem mostrar que “é possível criar um novo modelo de financiamento sem condicionalidades”.
O presidente criticou também o endividamento de países africanos, afirmando que os pagamentos de juros superam os investimentos recebidos. “Não é possível que o continente africano deva US$ 900 bilhões e o pagamento de juros seja muito maior do que qualquer forma de novos investimentos”, disse.
Durante o discurso, Lula elogiou o Novo Banco de Desenvolvimento, criado em 2014 e atualmente presidido pela ex-presidente Dilma Rousseff, por financiar projetos alinhados às prioridades nacionais dos países-membros, sem impor condições econômicas rígidas. “Em um cenário global cada vez mais instável, marcado pelo ressurgimento do protecionismo e do unilateralismo, e impactado pela crise climática, o papel do NDB na redução de nossas vulnerabilidades será crescente”, afirmou o presidente, ressaltando o financiamento de iniciativas voltadas à transição energética e preservação ambiental.
Lula tem reforçado, em diversos fóruns internacionais, a necessidade de os países desenvolvidos financiarem ações de combate às mudanças climáticas nos países do Sul Global. Ele também já propôs a troca de dívidas por investimentos em áreas como saúde e educação.
Outro ponto abordado por Lula foi a defesa de uma moeda alternativa para transações comerciais entre os países do Brics, substituindo o dólar em negociações internacionais, uma proposta que, segundo ele, é complexa, mas necessária para o avanço da autonomia financeira dos países em desenvolvimento. “É por isso que a discussão de vocês sobre a necessidade de uma nova moeda de comércio é extremamente importante. Se a gente não encontrar uma nova fórmula, vamos terminar o século 21 igual começamos o século 20, e isso não será benéfico para a humanidade”, alertou.
O presidente também aproveitou a ocasião para criticar a fragilidade da Organização das Nações Unidas diante dos conflitos internacionais, especialmente no Oriente Médio. Para ele, a ONU perdeu protagonismo e se tornou ineficaz diante de crises humanitárias. “Há muito tempo eu não via a nossa ONU tão insignificante como ela se apresenta hoje. Uma ONU que foi capaz de criar o Estado de Israel não é capaz de criar o Estado Palestino”, disse Lula, voltando a denunciar o que chamou de genocídio cometido por Israel contra a população civil em Gaza.
Segundo Lula, o maior problema mundial atualmente não é econômico, mas político, devido à carência de lideranças dispostas a tomar decisões concretas para enfrentar as desigualdades e os conflitos armados.
O Brasil assumiu a presidência rotativa do Brics em janeiro deste ano. O grupo, inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, foi ampliado recentemente com a entrada de Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã.
A cúpula do Brics, sediada no Rio de Janeiro, vai até a próxima segunda-feira (7), reunindo representantes dos 11 países-membros para debater formas de fortalecer a cooperação política, econômica e social entre nações do Sul Global e ampliar sua influência na governança internacional.