O empresário Vanderson de Melo ganhou projeção nacional ao ser apresentado como símbolo de superação por Pablo Marçal, influenciador e coach que se lançou como candidato a prefeito de São Paulo em 2024. Durante eventos lotados de seguidores, Marçal exaltava a trajetória do então motorista de caminhão que, segundo ele, teria se transformado em líder de uma das maiores empresas de logística do continente.
“Ele era motorista de caminhão. Hoje, ele tem uma das maiores empresas da América Latina de logística. Esse ano de 2024, já vai bater 2 mil placas de carreta, caminhão, os trem doido (sic)”, disse Marçal em palestra a seus apoiadores, destacando Vanderson como exemplo de sucesso.
A parceria entre os dois ultrapassou os palcos das palestras: Vanderson não apenas se tornou “mentorado” de Marçal, como também apoiou publicamente a candidatura do coach, comparecendo a debates televisivos, atos de campanha e até viagens de lazer como pescarias. Inspirado pelo mentor, Vanderson passou a dar palestras e se apresentar como influenciador, divulgando sua rotina com carrões importados e viagens internacionais.
No entanto, enquanto a imagem vendida era de prosperidade meteórica, a Justiça e a polícia apontam outra face do negócio. O Grupo Brasil Novo, empresa de caminhões de Vanderson, assinou em 2020 contrato de locação de 40 caminhões com uma grande companhia de logística. Com a crise financeira, deixou de pagar as mensalidades, acumulou dívida de R$ 7,2 milhões e não devolveu os veículos.
Ordens judiciais de busca e apreensão foram expedidas para recuperar a frota. A Justiça conseguiu localizar apenas parte dos caminhões: 18 continuam desaparecidos e outros foram escondidos em diferentes estados. Entre as manobras denunciadas estão trocas de placas para burlar ordens judiciais e transporte dos veículos para locais remotos sem rastreamento. Em junho, advogados da empresa credora flagraram funcionários trocando placas de caminhões na garagem do Grupo Brasil Novo, em Barueri (SP), sob acompanhamento de oficial de Justiça.
A Polícia Rodoviária Federal também interceptou caminhões circulando com placas adulteradas em rodovias do Rio Grande do Sul. Veículos foram localizados em locais como Redenção (PA) e em estados como Mato Grosso, Maranhão e Santa Catarina. Em outra ocasião, advogados encontraram dois caminhões sendo levados em cima da caçamba de outro, mas não conseguiram apreendê-los.
Após reportagens sobre o caso, Vanderson publicou vídeos nas redes sociais para tentar justificar a situação. Disse que a empresa atravessa um “blackout financeiro” e estuda reduzir a estrutura, mas evitou comentar as trocas de placas ou a ocultação dos caminhões. “Estamos tomando todas as medidas possíveis por todas essas barbaridades que estão falando por aí”, afirmou, atribuindo a repercussão negativa às dificuldades financeiras do negócio.
“Quando se faz algo que tem uma trajetória de sucesso, ninguém dá muita importância. Agora, quando acontece qualquer deslize ou qualquer momento pontual realmente de dificuldade, todo mundo joga a primeira pedra”, completou em sua defesa.