Em meio à escalada de tensão com Israel, governo iraniano tenta abrir canal diplomático com os Estados Unidos; Washington reforça presença militar na região

Em um movimento inusitado, o Irã sinalizou nesta segunda-feira (16/6) interesse em retomar o diálogo com o governo do presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, como estratégia para encerrar o confronto com Israel. O gesto foi interpretado como uma tentativa de conter a escalada militar que ameaça mergulhar o Oriente Médio em um novo ciclo de instabilidade.
A manifestação partiu do ministro das Relações Exteriores do Irã, Seyed Abbas Araghchi, que publicou um apelo direto ao líder americano em sua conta na rede social X (antigo Twitter). “Se o presidente Trump for genuíno em relação à diplomacia e estiver interessado em acabar com essa guerra, os próximos passos são importantes”, escreveu o chanceler. “Basta um telefonema”, concluiu, em tom de provocação e urgência.
Conflito em escalada
A declaração ocorre poucos dias após Israel realizar uma ofensiva preventiva contra o programa nuclear iraniano, na última quinta-feira (12/6). A investida foi justificada por ameaças crescentes do Irã, segundo o governo de Benjamin Netanyahu, que acusa Teerã de ampliar seu potencial nuclear com fins militares, algo que o regime dos aiatolás nega.
Desde o ataque, a tensão aumentou consideravelmente. Araghchi afirmou que os atos de Israel não apenas violam o direito internacional, como têm o objetivo de sabotar qualquer tentativa de aproximação entre Teerã e Washington. Ele classificou Netanyahu como um “criminoso de guerra” e reiterou que os ataques israelenses não ficarão impunes.
Além dos EUA, o Irã também busca mediação de países do Golfo Pérsico, como Catar, Arábia Saudita e Omã, para pressionar os norte-americanos a utilizarem sua influência sobre o governo israelense em favor de um cessar-fogo imediato. Segundo a agência Reuters, caso a diplomacia avance, o Irã estaria disposto a demonstrar mais flexibilidade nas negociações sobre seu programa nuclear.
EUA enviam reforço militar à região
Mesmo com o apelo iraniano, os Estados Unidos reforçaram sua presença militar no Oriente Médio nesta segunda-feira. O porta-aviões USS Nimitz, movido a propulsão nuclear, foi deslocado da região do Mar do Sul da China e está a caminho do Oriente Médio, segundo o site Marine Traffic, que monitora navios militares em todo o mundo.
O movimento ocorreu após o cancelamento de uma escala prevista no Vietnã. Ao mesmo tempo, mais de 30 aviões-tanque da Força Aérea norte-americana deixaram bases nos EUA rumo ao leste, atravessando o Atlântico. Com a chegada do USS Nimitz, sobe para dois o número de porta-aviões norte-americanos na região, junto com o USS Harry S. Truman, que está no Oriente Médio desde maio.
Em resposta aos rumores de envolvimento nos bombardeios israelenses, o Departamento de Estado dos EUA afirmou que não participou diretamente dos ataques contra o Irã. A pasta reiterou que o apoio americano a Israel se limita a medidas defensivas e que parte dos deslocamentos militares está relacionada a exercícios da Otan na Europa.
Tentativa de contenção
A iniciativa diplomática do Irã marca uma mudança de tom no confronto. Ainda que o histórico de desconfiança entre Teerã e Washington seja longo, analistas veem na sinalização uma tentativa de evitar um conflito direto de grandes proporções, com possível envolvimento de atores globais.
Embora ainda não haja resposta pública por parte da Casa Branca, o gesto iraniano evidencia que, apesar das provocações, há espaço para negociação, ainda que instável e condicionado a pressões internas e externas.
