Um ataque realizado por Israel contra instalações nucleares no Irã, nessaa quinta-feira (12), elevou a tensão global e acendeu alertas de uma possível escalada militar envolvendo outras potências. Apesar dos Estados Unidos negarem envolvimento direto na operação, o histórico de apoio ao governo israelense coloca o país como possível alvo indireto de retaliações. A situação se torna ainda mais sensível diante da aliança entre Irã e Rússia, aumentando o risco de desdobramentos geopolíticos mais amplos.
Segundo informações preliminares, além das estruturas nucleares, áreas civis também foram atingidas, resultando em vítimas — embora os detalhes sobre mortos e feridos ainda não tenham sido divulgados. Em resposta ao bombardeio, o governo iraniano prometeu retaliar. As Forças Armadas do país emitiram um comunicado afirmando que bases norte-americanas no Oriente Médio podem entrar na mira de uma ação militar.
“A retaliação da República Islâmica do Irã é certa, e o inimigo pagará um preço alto”, disse um porta-voz das Forças Armadas, em comunicado divulgado pela mídia estatal. “Não há necessidade de se preocupar no país, pois o regime sionista [Israel] e a América [EUA] pagarão um preço alto e receberão um duro golpe”, alertou.
Alvos e vítimas
As Forças de Defesa de Israel (FDI) confirmaram que foram responsáveis pelo ataque realizado na quinta-feira (12) contra o Irã. Segundo o comunicado oficial, os alvos foram instalações nucleares localizadas em diversas regiões, incluindo a capital Teerã e áreas ao redor. Moradores relataram fortes explosões em diferentes pontos da cidade.
Entre as vítimas fatais do ataque estão figuras de alto escalão do regime iraniano. A agência estatal de notícias do Irã informou que o comandante-chefe da Guarda Revolucionária, Hossein Salami, o comandante sênior Gholamali Rashid, além dos cientistas nucleares Fereydoun Abbasi e Mohammad-Mehdi Tehranchi, foram mortos na ofensiva.
A ação israelense foi descrita pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu como apenas o início de uma operação mais ampla. Em pronunciamento, ele afirmou que a ofensiva continuará pelo tempo necessário para “eliminar a ameaça nuclear iraniana”. A declaração indica a possibilidade de novos ataques nos próximos dias.
Como medida de precaução diante da esperada retaliação, Israel declarou estado de emergência nacional e fechou temporariamente seu espaço aéreo. O Irã respondeu adotando a mesma medida. O clima na região é de tensão máxima, e autoridades internacionais acompanham com preocupação os desdobramentos.
Apesar de agradecer nominalmente ao ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pelo apoio histórico à luta contra o programa nuclear iraniano, Netanyahu afirmou que a operação foi exclusivamente israelense. O governo norte-americano, por sua vez, negou envolvimento direto no ataque.
“O presidente Trump e a Administração tomaram todas as medidas necessárias para proteger nossas forças e permanecem em contato próximo com nossos parceiros regionais. Que fique claro: o Irã não deve atacar interesses ou pessoal dos EUA”, afirmou o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio.
Estruturas de enriquecimento de urânio e relação com a Rússia
Mais cedo, por meio de uma publicação na rede social X, o governo do Irã divulgou uma declaração do chefe da Organização de Energia Atômica Iraniana, na qual ele criticou a postura dos Estados Unidos durante a reunião do Conselho de Governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
“O que estamos testemunhando hoje é uma série de operações políticas e psicológicas dirigidas pelos americanos e perseguidas/implementadas por três países europeus”, escreveu Mohamad Eslami. Em outra publicação, na mesma sequência, o Ministério das Relações Exteriores criticou a atuação dos países no colegiado para levantar dúvidas sobre a “natureza pacífica do programa nuclear do Irã”.
O Irã afirmou que uma de suas principais conquistas foi a criação de um terceiro centro de enriquecimento de urânio, descrito como “localizado em uma área segura”. Em publicação na rede social X, o país declarou: “A indústria de enriquecimento do Irã não pode ser destruída. Em resposta à sua ação ilegal e ultrapolítica, estamos inaugurando nosso terceiro local de enriquecimento”.
Ao mesmo tempo em que criticava os Estados Unidos e os países europeus por sua postura diante da questão nuclear, o governo iraniano reforçou seus laços diplomáticos com a Rússia. Também por meio de uma postagem no X, o presidente do Irã felicitou o povo russo pelo Dia Nacional da Federação Russa.
Na mensagem, endereçada ao presidente Vladimir Putin, o líder iraniano destacou a intenção de aprofundar os laços entre os dois países. “A cooperação bilateral, regional e internacional entre o Irã e a Federação Russa continuará a expandir-se dia após dia”, disse. A publicação foi feita antes do ataque de Israel às instalações iranianas.
Netanyahu: Irã tem urânio suficiente para nove bombas atômicas
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou após o ataque que o Irã já teria enriquecido urânio suficiente para fabricar até nove bombas atômicas — uma alegação feita sem apresentação de provas concretas. Segundo ele, o país islâmico poderia estar a apenas alguns meses, ou no máximo um ano, de concluir a produção de uma arma nuclear, o que teria motivado o que classificou como um “ataque preventivo”.
Durante seu pronunciamento, Netanyahu reforçou a narrativa de ameaça existencial, afirmando que “hoje, o Estado judeu se recusa a ser vítima de um holocausto nuclear perpetrado pelo regime iraniano”. A retórica intensificou a tensão internacional em torno da legitimidade e das consequências do ataque contra o Irã.
As relações entre Israel e Irã são marcadas por décadas de hostilidade. O governo iraniano é acusado por diversas agências de inteligência de financiar grupos extremistas que promovem ações contra Israel. Um dos episódios mais significativos ocorreu em 1992, quando o grupo Jihad Islâmico, supostamente ligado ao Irã, atacou a embaixada israelense em Buenos Aires, provocando a morte de 29 pessoas.
Em 2024, os confrontos entre os dois países se agravaram após a morte de Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, em um ataque aéreo israelense na capital iraniana. Desde então, as ofensivas têm sido frequentes, incluindo uma resposta iraniana em 1º de outubro daquele ano. A escalada reforça o temor global de que a disputa entre os dois países possa evoluir para um conflito mais amplo no Oriente Médio.