Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro prestou depoimento nesta segunda (9) no Supremo; interrogatório integra processo que apura tentativa de golpe após as eleições de 2022

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, estava entre os mais radicais defensores de um golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder após as eleições de 2022.
Cid depôs na tarde desta segunda-feira (9) à Primeira Turma do STF, durante a audiência de interrogatórios dos réus do chamado “núcleo 1” do inquérito que investiga uma suposta trama golpista. Segundo ele, não havia um grupo organizado que discutia a possibilidade de ruptura institucional, mas sim pessoas que se aproximavam individualmente do então presidente para sugerir ações nesse sentido.
“Os grupos não eram organizados. Era cada um com sua ideia. Não existia uma organização e nem reuniões. Não eram grupos organizados que iam junto ao presidente. Eram pessoas que levavam ideias. Tinham dos mais conservadores aos mais radicais”, declarou Cid ao ser questionado pelo ministro Alexandre de Moraes.
Ao mencionar diretamente Almir Garnier, Cid foi categórico: “Classifiquei entre um dos mais radicais”. Segundo ele, Garnier demonstrava maior entusiasmo pelas propostas de golpe, diferentemente de outras figuras do governo, como o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, que teria adotado uma postura mais moderada.
Após a declaração, advogados presentes à sessão se agitaram. Um dos defensores que assistiam à audiência na plateia aproximou-se de Demóstenes Torres, advogado de Garnier, e sussurrou algo em seu ouvido, enquanto o jurista manuseava documentos.
O interrogatório desta segunda-feira marca o início das oitivas dos réus classificados como pertencentes ao núcleo central da suposta tentativa de golpe, entre eles o próprio Jair Bolsonaro e sete aliados próximos. A divisão dos réus em núcleos foi feita com base na participação de cada grupo nos supostos atos antidemocráticos.
A sessão teve início com a fala do relator Alexandre de Moraes. Por volta das 14h20, Mauro Cid foi chamado ao banco dos réus e começou a prestar depoimento.
Cid é considerado peça-chave nas investigações e firmou acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), colaborando com informações sobre a suposta articulação golpista, incluindo reuniões, rascunhos de minutas e o envolvimento de autoridades militares e civis.
O caso segue sob sigilo parcial e tramita no STF no âmbito do inquérito que investiga atos antidemocráticos e ataques ao Estado de Direito.