
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, nesta segunda-feira (9), o uso do Mounjaro para o tratamento de obesidade e sobrepeso com comorbidades. O medicamento, desenvolvido pela farmacêutica Eli Lilly, já estava disponível nas farmácias brasileiras desde maio, mas restrito ao controle do diabetes tipo 2.
Com a nova indicação, a farmacêutica projeta uma aceleração nas vendas do produto e amplia a disputa com o Ozempic, da Novo Nordisk, atualmente um dos medicamentos mais utilizados para perda de peso no país. Ambos são aplicados por meio de canetas injetoras semanais, mas diferem em sua composição e eficácia clínica.
Quem pode usar o MounjaroA aprovação é válida para adultos com índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 30, caracterizando obesidade, ou igual ou superior a 27, no caso de sobrepeso associado a comorbidades como hipertensão, colesterol elevado ou pré-diabetes.
A decisão da Anvisa se baseou em dados do programa SURMOUNT, que reúne sete estudos clínicos com mais de 20 mil pacientes. Os resultados indicam eficácia significativa tanto na perda de peso quanto no controle glicêmico.
“Somos mais eficazes, e os médicos estão prontos para prescrever e ajudar esses pacientes que precisam dessa medicação”, afirmou Karla Alcázar, presidente da Eli Lilly na América Latina, em entrevista à revista Exame. “Vamos nos tornar líderes de mercado”, completou.
Projeção de crescimento
Com a nova aprovação, a Eli Lilly reforça seus planos de expansão no Brasil. A empresa pretende multiplicar por cinco sua presença no país até 2030, com o Mounjaro como um dos pilares, ao lado de novos tratamentos oncológicos e para Alzheimer.
O medicamento é comercializado nas doses de 2,5 mg e 5 mg, em embalagens com quatro canetas, suficientes para um mês de tratamento. Os preços variam entre R$ 1.406 e R$ 2.384, dependendo do ponto de venda e da participação do paciente no programa de acesso da Lilly.
A patente do Mounjaro é válida até pelo menos 2035, e a farmacêutica alerta que não existem cópias legais do produto no país. “Só a Lilly fornece a tirzepatida com garantia de qualidade”, destaca Alcázar.
Mercado bilionário e crescente
O mercado de medicamentos para obesidade está em plena expansão. Segundo um levantamento do Barclays, o setor pode movimentar até US$ 199 bilhões por ano nos próximos anos. Já os remédios para diabetes tipo 2, segmento em que o Mounjaro também atua, movimentaram mais de US$ 6 bilhões até agosto de 2023 em todo o mundo.
O Mounjaro é um medicamento injetável de uso semanal, cuja substância ativa, a tirzepatida, age sobre dois hormônios naturais: o GLP-1 e o GIP. Ambos estão envolvidos na regulação da insulina, do apetite e do gasto energético. Essa ação combinada promove redução da glicose no sangue e perda de peso significativa.
Diferença entre Mounjaro e Ozempic
A principal diferença entre os dois concorrentes está no mecanismo de ação. Enquanto o Ozempic, à base de semaglutida, atua apenas sobre o hormônio GLP-1, o Mounjaro combina o GLP-1 ao GIP, o que potencializa sua eficácia.
De acordo com estudos da Eli Lilly, 51% dos pacientes tratados com tirzepatida (15 mg) atingiram níveis normais de hemoglobina glicada (HbA1c) — abaixo de 5,7%, indicador de pessoas sem diabetes. No grupo que utilizou semaglutida, esse índice foi de apenas 20%.
Na comparação direta sobre perda de peso, os pacientes que utilizaram Mounjaro perderam, em média, 24,3 kg, enquanto os que tomaram Ozempic registraram média de 17 kg.