O Brasil registrou em 2023 um total de 45.747 homicídios, uma média de 125 mortes por dia, segundo o Atlas da Violência 2025, divulgado nesta segunda-feira (12) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Apesar do número elevado, trata-se de uma pequena redução em relação ao ano anterior, que contabilizou 46.409 homicídios.
A taxa de homicídios por 100 mil habitantes caiu para 21,2 – a menor já registrada desde o início da série histórica do estudo. Em 2022, esse índice era de 21,7. O pico ocorreu em 2017, quando o país atingiu a marca de 31,8 homicídios por 100 mil habitantes, totalizando 65.602 mortes violentas naquele ano.
Segundo o pesquisador Daniel Cerqueira, do Ipea, dois fatores principais explicam a redução: o envelhecimento da população, já que jovens são os mais vulneráveis à violência, e a mudança na política de segurança pública, com maior uso de inteligência, planejamento e qualificação das forças policiais. “Estamos substituindo a polícia da brutalidade por uma polícia mais eficaz e baseada em dados”, afirmou Cerqueira.
Apesar da queda geral, o uso de armas de fogo permanece como o principal meio de execução dos homicídios no Brasil. Em 2023, 32.749 mortes – 71,6% do total – foram causadas por disparos de arma de fogo. Os estados do Amapá (48,3 por 100 mil habitantes), Bahia (36,6) e Pernambuco (30,8) lideram os índices de mortes por armas de fogo. Em contraste, São Paulo (3,4), Santa Catarina (4,4) e o Distrito Federal (5,3) têm os menores índices.
No recorte estadual, 20 unidades da federação apresentaram taxas de homicídios acima da média nacional. O Amapá (57,4), a Bahia (43,9) e Pernambuco (38) se destacaram negativamente. Já os menores índices foram registrados em São Paulo (6,4), Santa Catarina (8,8) e o Distrito Federal (11).
O Atlas também revela que ao menos 11 estados, incluindo Pará, Goiás, São Paulo e Santa Catarina, conseguiram reduzir sistematicamente suas taxas de homicídio nos últimos oito anos.
Uma das principais revelações do Atlas da Violência 2025 é a existência de homicídios ocultos – mortes violentas que não foram adequadamente classificadas nos sistemas oficiais. Entre 2013 e 2023, o estudo estima que 51.608 homicídios deixaram de ser contabilizados, uma média de 4.692 por ano.
Com a inclusão desses dados, a taxa real de homicídios em 2023 seria de 23 por 100 mil habitantes. Ainda assim, trata-se da menor desde 2013. O maior índice ocorreu em 2017, com 33,6.
Essa subnotificação altera o ranking de violência entre os estados. São Paulo, por exemplo, teria registrado 2.277 homicídios a mais do que os dados oficiais indicam. Isso eleva sua taxa de 6,4 para 11,2 por 100 mil habitantes, colocando o estado atrás de Santa Catarina (9), que passa a ocupar a primeira posição entre os menos violentos do país.