O velório do ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica, que faleceu aos 89 anos nesta terça-feira (13), será estendido até o início da noite desta quinta-feira (15) para que o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva possa prestar sua homenagem. A decisão foi confirmada pelos jornais El Observador e El País, que destacaram a expectativa de chegada de Lula às 17h, horário local.
Inicialmente, o velório estava programado para encerrar às 15h, mas a cerimônia foi ajustada em função da presença de autoridades internacionais. O Palácio Legislativo, onde ocorre o evento, será fechado durante a noite, e a cerimônia começará com um grupo restrito de 300 convidados. Após esse momento, as portas serão abertas para o público em geral prestar suas últimas homenagens ao ex-presidente.
O cortejo fúnebre partiu do edifício da Presidência do Uruguai e passou pela sede do Movimento de Participação Popular (MPP), grupo político fundado por Mujica, antes de chegar ao Palácio Legislativo. A expectativa é que o corpo de Mujica seja cremado ainda nesta quinta-feira.
Lula, que está em viagem oficial à China, lamentou profundamente a morte do amigo e destacou, em declaração à imprensa em Pequim, a importância de comparecer ao funeral. “Eu pretendo, chegando à Brasília, ir ao enterro do Pepe Mujica porque eu acho que o mínimo que a gente tem que fazer é se despedir das pessoas que serviram de referência para gente,” disse o presidente.
Pelas redes sociais, Lula também prestou homenagem. “Sua vida foi um exemplo de que a luta política e a doçura podem andar juntas. E de que a coragem e a força podem vir acompanhadas da humildade e do desapego,” escreveu.
Uma trajetória marcada pela simplicidade e resistência
Pepe Mujica enfrentava uma fase terminal de um câncer de esôfago. Em janeiro, anunciou publicamente que a doença havia se espalhado e que deixaria de receber tratamento, optando por cuidados paliativos.
Nascido em maio de 1935, Mujica teve uma vida marcada pela luta política e pela resistência. Nos anos 1960, integrou o grupo guerrilheiro de esquerda Tupamaros e passou quase 15 anos preso durante a ditadura militar uruguaia, parte desse tempo em solitárias, o que marcou profundamente sua visão de mundo.
Segundo o jornalista Marcos André Lessa, autor da biografia “Mujica: o presidente mais rico do mundo”, o ex-presidente aprendeu a “viver com pouco” e “valorizava um colchão à noite como um luxo”.
Com a redemocratização, Mujica ajudou a fundar o Movimento de Participação Popular, que se uniu à Frente Ampla, coalizão progressista que governou o Uruguai por vários anos. Ele foi deputado, senador e ministro antes de assumir a presidência do país, em 2010.
Durante seu mandato, Mujica ficou internacionalmente conhecido por seu estilo de vida austero — morava em uma pequena chácara nos arredores de Montevidéu, dirigia um Fusca e doava parte significativa de seu salário para causas sociais. Entre as principais medidas de seu governo estão a legalização da maconha, a regulamentação do aborto até a 12ª semana de gestação e a defesa de políticas de inclusão social.
Após deixar a presidência, manteve-se ativo na política e continuou sendo uma referência ética e moral para muitos na América Latina.
Mujica deixa sua esposa e companheira de longa data, Lucía Topolansky, com quem compartilhou mais de 50 anos de vida e militância.
O Uruguai e o continente se despedem não apenas de um ex-presidente, mas de um símbolo de integridade, simplicidade e esperança em um mundo mais justo.