A imposição de uma tarifa de 50% pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros expôs fissuras internas no Brasil e evidenciou o isolamento do bolsonarismo na defesa da medida. Entre críticas e alertas, o episódio revela a complexidade das relações comerciais e políticas entre os dois países, colocando em xeque estratégias e discursos divergentes.
Enquanto seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro buscam atribuir a responsabilidade ao atual governo Lula e ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, grupos econômicos, especialmente os ligados à direita moderada e ao agronegócio, adotam uma postura de alerta, defendendo respostas firmes, mas também cautelosas, para preservar a relação comercial bilateral.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) foi uma das primeiras a manifestar preocupação, apontando que o impacto das tarifas vai muito além da simples elevação de preços. “A nova alíquota produz reflexos diretos e atingem o agronegócio nacional, com impactos no câmbio, no consequente aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras”, afirma o comunicado da entidade, evidenciando os efeitos em cadeia que a medida pode gerar para o setor.
Entre os críticos, o deputado Joaquim Passarinho (PL-PA), ligado ao partido do ex-presidente Bolsonaro, demonstrou pesar ao comentar a medida e classificou o posicionamento de Trump como exagerado. Para ele, a retórica beligerante do líder americano compromete não apenas a economia brasileira, mas também a norte-americana. “Vejo com tristeza, pra economia brasileira, nós, como um grande parceiro americano, dos Estados Unidos, acho que o presidente [Trump] exagera muitas vezes nesse tipo de colocação, até porque isso não faz mal só pra comida do Brasil, faz mal pra economia americana também”, declarou.
Passarinho ainda destacou a necessidade de um canal diplomático mais eficiente por parte do Brasil, apontando que o governo Lula precisa melhorar seu interlocutor para tentar amenizar o conflito. “Trump já disse que se a gente igualar ele aumenta, isso não é bom pra ninguém”, ressaltou, numa crítica velada à fragilidade das atuais relações internacionais brasileiras.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também mostrou surpresa diante do anúncio, afirmando que não existem fundamentos econômicos para a imposição das tarifas e pedindo que o governo intensifique as negociações para proteger uma parceria comercial histórica. Para a CNI, os Estados Unidos continuam sendo o terceiro maior parceiro comercial do Brasil e o principal destino da indústria nacional.
Por sua vez, a Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil) alertou para o potencial impacto negativo da medida sobre empregos, investimentos e a cadeia produtiva integrada entre os dois países. A entidade reforçou a urgência de um retorno ao diálogo construtivo para evitar maiores danos.
Na esfera política, Eduardo Bolsonaro, deputado licenciado e filho do ex-presidente, usou o episódio para criticar diretamente Alexandre de Moraes, sugerindo que a imposição das tarifas seja uma retaliação política. “Nos últimos meses, temos mantido intenso diálogo com autoridades do governo do presidente Trump – sempre com o objetivo de apresentar, com precisão e documentos, a realidade que o Brasil vive hoje. A carta do presidente dos Estados Unidos apenas confirma o sucesso na transmissão daquilo que viemos apresentando com seriedade e responsabilidade”, afirmou.
Segundo Eduardo, o ministro do STF conta com apoio de um “establishment político, empresarial e institucional que compactua com sua escalada autoritária”, o que teria influenciado a decisão de Washington.
Em resposta, o presidente Lula garantiu que o Brasil adotará a Lei de Reciprocidade Econômica para responder às medidas americanas, mas sinalizou disposição para negociar, caso os EUA estejam dispostos a flexibilizar barreiras comerciais.
A tensão é parte de um movimento mais amplo do governo Trump, que já ameaçou tarifas de até 100% para países do Brics que não se alinharem aos interesses comerciais americanos. O Brasil, um dos principais integrantes do bloco, segue sob os holofotes da Casa Branca, que deixa claro que a revisão das tarifas dependerá do comportamento brasileiro no mercado internacional.