O governo Lula anda colecionando derrotas no Congresso e, para tentar virar esse jogo, decidiu acelerar as conversas para criar uma superfederação de esquerda — uma espécie de “megabloco” oficializado no TSE — já de olho em 2026. A ideia é simples: somar forças para eleger mais deputados e ganhar musculatura no Legislativo, onde a base do presidente patina mesmo com ministérios e cargos oferecidos ao Centrão.
A estratégia voltou à mesa na última terça-feira (1º/7), quando emissários do Planalto reuniram-se com dirigentes do PCdoB e do PV (que já estão federados com o PT) e também começaram a sondar PSB e PDT. Só que a recepção foi morna: ninguém bateu a porta, mas também não teve empolgação.
PSB não quer ser coadjuvante do PT
Um dos nós é o PSB, partido do vice-presidente Alckmin, que controla ministérios importantes, como o da Indústria. Apesar de ter afinidade com Lula, a legenda teme ser engolida pelo PT — afinal, em número de deputados, os petistas são muito maiores. O PSB já negocia uma federação com o Cidadania, e a costura está tão adiantada que o anúncio pode sair a qualquer momento.
No PDT, crise e desconfiança
O cenário com o PDT é ainda mais complicado. A relação azedou de vez quando Carlos Lupi, presidente do partido, saiu do Ministério da Previdência em meio a denúncias de desmandos no INSS. Desde então, a bancada do PDT se afastou de Lula. Para piorar, os pedetistas caminharam para o lado do Centrão, enquanto o PSB se aproximou mais da esquerda.
Motivo do desespero: derrotas seguidas no Congresso
O estopim para o Planalto correr atrás de reforços foi a recente crise do IOF. O governo anunciou em maio o aumento do imposto para tentar fechar a meta fiscal, mas levou um “não” do Congresso, que acabou derrubando todo o reajuste no dia 25/6 — surpreendendo até parte dos líderes da Câmara. Com isso, Lula sofreu sua derrota mais pesada até agora, com apenas 98 votos a favor. Sem os recursos do IOF, o governo ameaça cortar programas sociais e travar emendas parlamentares.
STF pode entrar na briga e piorar tudo
O clima piorou tanto que o Planalto decidiu apelar ao STF para tentar reverter a decisão do Legislativo. Se o Supremo ficar do lado do governo, um novo atrito entre Poderes vai estar formado — e ninguém sabe até onde isso pode ir.
O que é a tal federação e por que complica?
A federação é como um casamento registrado no TSE: obriga partidos a agirem como um só por quatro anos. Isso ajuda a eleger mais deputados, mas engessa candidaturas majoritárias, pois quem quiser concorrer a prefeito, governador ou senador precisa de aval de todos os partidos federados. Isso costuma afugentar candidatos fortes, que não querem ficar presos a negociações complexas.
Dentro do PT, a expectativa é que a eleição interna, que deve escolher Edinho Silva como novo presidente, dê novo fôlego para as conversas. Mas até lá, o governo vai precisar lidar com um Congresso que já mostrou que não vai facilitar — mesmo que ministérios e cargos continuem sendo oferecidos em troca de votos.